De A a E

 

 

À espera do sol

Espero o sol nascer
desnuda de passados
expectativa amanhecer

Expert, o astro-rei
sabe como apetecer
introspectiva entrega

Esmero de todo o dia
colocar-me a renascer

Exceto quando tu não vens
e meu peito desassossega

Anorkinda

 

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A tecelã e o trovão

Uma pequena tecelã
vivia a tecer sonhos
com suas mãozinhas
e olhos tristonhos.

Ela tecia num afã,
sem piscadela,
um lindo amanhecer
de faíscas amarelas.

A pequena tecelã
sorria ao tecer
o céu azulado
e as pradarias.

Uma chuva vã,
num certo dia,
assustou a moça,
tremeu ventania.

A tímida tecelã
não podia ver
o céu em fúria
e a escurecer.

Em loucura sã
ela suplicou.
O forte trovão
lhe percebeu

frágil tecelã
em desespero
que tecia o céu
com tanto esmero.

Enviou sua irmã,
a luz-relâmpago,
para iluminar-lhe
um simples recado:

'Acalme-se tecelã
sou passageiro.
Vou embora logo
deixo-lhe o cheiro

da terra terçã
tão acostumada
aos ciclos mutáveis
de febre depuradora.

Querida tecelã,
vou-me agora,
volte ao teu céu
límpido em aurora

e eu como um ímã,
em magnetismo,
te amarei nesta
distância de abismo!'

Anorkinda

..........................................................

 

A Apatia

Era fim de mais um dia...
Normal, a apatia
querer instalar-se,
rainha da situação.

O cansaço a chamou,
mas a teimosia,
minha mania
mais querida,

afastou esta audácia:
- Vá escurecer outro coração,
por aqui só há lugar
para ativa imaginação!

Anorkinda

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A caixa de Denise

Dentro da caixa havia
Um pequeno mundo

Mundo feito de conchas
A relíquia de alguém

Alguém guardou com cuidado
Esqueceu como o vento

Vento que viaja sem rumo
E neste mundo se encaixa

Encaixa as conchas da caixa
Em forma de pequeno mundo

Mundo em que Denise se deliciou
Viajando leve como o vento

Anorkinda

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A concha e a onda

Segura, a conchinha sossegou-se
em beira-mar, o sol a lhe esquentar...

Atrevida, a onda achegou-se
em vai-e-vém, a maré a lhe embalar...

Paixão, os opostos se atraem...
a diferença entre elas a encantar

Romance, os fatos se impõem...
a lua também vai testemunhar

Um amor que não vai se acabar!

Anorkinda

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A lua cheia está escondida

Chuva fina e o frio
escondem o esplendor
da branca lua cheia
em um líquido vazio

Véu de nuvens cinzas
acometem ao refletor
satélite que enleia
os sonidos ranzinzas

Lamúrias de estrelas
inserem nas gotículas
que caem abundantes
a insatisfação delas

Noite clara e o rito
vertem as partículas
luzes revigorantes
em um ato contrito

mas hoje a alma foi recolhida

Anorkinda

..............................................

 

A MUSA DO REI
 
Melancolia tão dela
era a atmosfera
Europa linda e antiga
não oferecia o viço
 
Saudade em aquarela
era a espera
O amor, nem em cantiga
não oferecia serviço
 
Agonia em janela
era a quimera
Ilusão tão sua amiga
deu as costas, sumiço
 
Invade a musa nela
era a primavera
O calor que prossiga
seu ofício e faça o feitiço
 
Dê nova vida à donzela!
 
Anorkinda

........................................................

 

 A MUSA DO REI ll

 
Nostálgica menina
era a leitura
companhia e o gato
energia e magia
 
Na obra, o escritor assina
um universo de aventura
mas a moça em seu recato
transluz a fantasia
 
Mágica fala felina
também lhe assegura
no ronronado sensato
a aura especial que luzia
 
Na dobra da página
uma iluminura
transcende o fato
de estar à teimosia
 
romanceando sua sina!
 
Anorkinda

..............................................

 

A MUSA DO REI lll

Na rosa delicadeza
ela é a flor
exala sua fragrância
por suaves poros

Ela induz à grandeza
de um puro amor
exalta a constância
mãe em seu colo

Feminina realeza
conduz em primor
sonhos e importâncias
de todos os fóruns

De gentil natureza
botão em frescor
ganhos e abundâncias
ela completa o quórum

para a criação da beleza!

Anorkinda

....................................................

 

A MUSA DO REI lV

Perdidos pensamentos
em tarde ensolarada
desfruta ela da calma
das águas translúcidas

Esqueceu os lamentos
largados em almofadas
estende ela sua palma
às delícias da vida

Vestidos de momentos
os acordes do Nada
seduzem sua alma
com bonitas minúcias

Acendeu sentimentos
pálpebras sossegadas
fecham-se ao trauma
da dor não se faz sócia

libertou-se dos condicionamentos

Anorkinda

 

.....................................................................

 

A MUSA DO REI V

O rubro e macio tecido
rouba-lhe o escarlate
sangue de suas veias
fluido de amor pulsante

O perfume é pressentido
pelo pintor, artista e vate
fragância a que se anseia
imbuído de amor revigorante

A maresia traz sentido
e a delicada cena invade
num vento que permeia
a sensibilidade ali reinante

A essência do vestido
conclui em si o arremate
contraste quente em cadeias
invisibilidade viciante

de ser parceira da felicidade

Anorkinda

............................................................

 

A MUSA DO REI Vl

Trouxe consigo reflexões
o clássico romance
em páginas amareladas
e ela, feliz, entregou-se

Deslizou em suaves emoções
no pensamento, relances
filosofias inacabadas
de todo método livrou-se

Rememorou inúmeras situações
na leitura, a sua chance
de arejar teorias mofadas
e de toda cicatriz, curou-se

Trouxe novas conexões
ideias e nuances
horas tão delicadas
onde o bem-estar renovou-se

em letras, enleios e paixões

Anorkinda

...................................................................

 

A MUSA DO REI Vll - Uma linda mulher


Sua beleza em divã
senta-se a incrustar
na vida uma aura
de dourada divindade

Toda arte num afã
deseja lhe retratar
mas sua alma pura
exala humildade

Da nobreza é irmã
sente-se o amar
que na pele rara
verte naturalidade

Toda febre terçã
enseja lhe tocar
intermitente seara
a cultivar bondade

em natureza sã!

Anorkinda

.............................................................

 

A MUSA DO REI Vlll - Mocidade

Doce menina ainda
acompanha o flutuar
ela se vê, inconstante
à mercê do tempo a passar

Sua mocidade é bem-vinda
aroma e frescor a verter
sua vida é cada instante
e lhe beija o alvorecer

Doce menina linda
abrangente é seu amar
ela se sente palpitante
à espera de seu maturar

Sua felicidade brinda
neste suave percorrer
sua vida é importante
veio feminino a renascer

Anorkinda

....................................................................

 

A Noite das borboletas

No escuro brilharam
pontinhos de luz
coloridos, pirilampos

Eles anunciaram
as borboletas
coloridas, boas-novas

Quase desfaleci
caí, assustada,
uma fadinha falava:

- Que se faça nossa amizade!

Ali mesmo aprendi
da vida encantada,
da tristeza não precisava

Na conexão cintilaram
asinhas de pura luz
coloridas, purpurinas

Elas contaminaram
as atmosferas
comovidas, alegrias

Anorkinda

 

................................................

 

 

 
A pintura
 
Ali 
impressa
sua tela
 
Tão ela
a pintura
sua arte
sua moldura
 
Tão dela
a assinatura
sua marca
sua textura
 
Anorkinda
 

.......................................................

 

 A Poesia e o Samba

 
Em meio ao povaréu
folião, minha poesia
foi passando, lenta,
com versos de agonia.
 
Ela rogava ao céu
bonachão, um alento
nesta sua vida isenta
de comprometimento.
 
Em meio a um escarcéu,
confusão, minha poesia
viu, desfilando, galante,
o samba em alegria.
 
Ela tratou-o como réu
da paixão, condenado
a viver, doravante,
a prestar serviço ritmado
 
ao Carnaval da Poesia!
 
Anorkinda

.......................................

 

 A pena

 
A pena pequena
daquela siriema
sofria apenas
por ser pena
pequena:
 
- É uma pena
eu ter nascido
assim problema
queria apenas
não ter pena
de mim.
 
Anorkinda

......................................................

 

A tua cura

A tua porta surpreendi-me,
não tinha esperanças
de que me abrigarias
do frio da morte.

A tua solicitude abateu-me
apaixonada, criança...

A tua alma rendi-me,
não tinha forças,
minhas avarias
eram tantas...

A tua dedicação tornou-me
curada, novamente moça.

Anorkinda

 

 

.............................................

 

A viver


Estava decidida
a voar livre
borboleta
de vida
poesia

Era corajosa
e plenamente
ela viveria

Anorkinda

 

........................................

 

Alegria

Costura, guria...
A barra da vida
A bainha do dia...

Costura poesia...
Amarra fantasia
com a linha turquesa

para que a alegria
seja certeza

Anorkinda

 

.............................................................

 

 

Alegria Alegria

Todas as cores celebraram
Alegria alegria
Sorria o dia em festa de vida

Todas as gentes cantaram
Alegria alegria
Folia em dia de nova primavera

Todas as bênçãos caíram
Alegria da alegria
Chovia o dia da paz mais colorida

Anorkinda

...................................................................

 

AMOR CIGANO

É como o voo da mariposa...
livre, com sabor de vento...
um amor cigano

É forte desejo na pele...
leve, com aroma sutil...
um amor leviano

É como a chuva de verão...
solto, com frescor de momento...
um amor mundano

É fugaz paixão do corpo...
lindo, com sintoma febril...
um amor profano

Anorkinda

.................................................

 

Apaixonante lua

Tudo se deu quando
ela percebeu
o reflexo da lua
no imenso mar

Apaixonada e tanto
ela enlouqueceu:
mergulho fundo
ou voo ao céu?

Sentiu-se mais perto
do firmamento
estrelas companhias

Decidiu alçar voo
jogou seu espirito
ao céu, a casca no mar

Anorkinda

..................................................................

 

AS MARAVILHAS DE PÁSARGADA!

Pasárgada maravilhosa
Onde reina a jovialidade
e disposição!

Pasárgada terra ditosa
Que premia a mocidade
e a sedução!

Pasárgada primorosa
Onde teima a graciosidade
em rebelião!

Pasárgada ilha formosa
Que irradia a felicidade
e a redenção!

Anorkinda

 

..................................................................

 

As rosas e as horas

Ao brincar com os ponteiros
pétalas de rosas faceiras
ludibriaram as horas

Com perfumes vermelhos
os minutos já não se arrastam
agora eles voam felizes

cantando o tempo
como pequenos aprendizes

encantando momentos
esquecidos das demoras

Anorkinda

...................................................................

 

ASSOMBRO

Sempre se remete à noite escura
ao pio da coruja, uivo na lua cheia
mas assombro mesmo é ser sereia
em terra seca, em constante procura

pela água pura sem origem obscura
o bálsamo de um amor que clareia

Anorkinda

 

...................................................................

 

Assomos do passado
 
Multicores tempestades,
atmosfera de pintura...
 
Oferece-me o final da tarde,
a visão inspiratura.
 
São flores felicidades
a colorir com desenvoltura...
 
Acomete-me a saudade,
amarelada iluminura.
 
Anorkinda
 

..................................................

 

 Aventura

 
O cavalheiro estranho
tinha nome de fogo
tinha cavalo e charme
 
A mulherada nobre
seguia andantes
certezas
 
Até hoje dança
boa imaginação
montado em coração
 
Anorkinda
 

..........................................

 

Azul borboleta

Emanações
fluidos
brilhos
em azul
borboleta

Vibrações
ruídos
rastros
em tons
borboleta

Intuições
sinais
centelhas
em voo
borboleta

Dimensões
surreais
passos
em compasso
borboleta

Anorkinda

................................................

 

Baile na roça

Te convido, amigo
Vem!

Vamos dançá
até o dia raiá!

Vamos proseá
até a língua cansá!

Temos disposição
e belas companhias!

Música da boa
no arrasta-pé da folia!

Anorkinda

................................................

 

Baile na roça

Te convido, amigo
Vem!

Vamos dançá
até o dia raiá!

Vamos proseá
até a língua cansá!

Temos disposição
e belas companhias!

Música da boa
no arrasta-pé da folia!

Anorkinda

..................................................

 

 BALBÚRDIA

 
Que compasso agitado
o grito lado a lado
com o entusiasmo
 
Em lampejos de riso
a alegria sem siso
veio buliçosa
 
Que balbúrdia danada
o contágio é pitada
de ventura
 
Em brilhos coloridos
olhos atrevidos
se dão
 
Anorkinda

..............................................................

 

 BALÉ DAS CORES

 
Chegou em pé de valsa
o amarelo vibrante
chamou pra dança
o verde errante
 
Caíram no samba
o azul e o vermelho
festa de bamba
faz o reflexo do espelho
 
Roxo e cinza escuro
traçaram um tango
o preto e o laranja maduro
esquentaram o mambo
 
O rosa trouxe o balé clássico
na ponta da sapatilha
o dourado brilhou básico
no samba-enredo da ilha
 
O balé de todas as cores
faz inveja ao dançarino
de todos os sabores:
Carlinhos de Jesus, o bailarino
 
Anorkinda

.............................................................

 

Balinhas sortilégio

A vontade de comer doce
sempre foi maior em mim
do que qualquer aviso
de prudência ou regime

Meti a mão e um punhado
de fazer gosto retirei dali
Do pacote estrelado
oferecido por um mago

Eram balinhas sortilégio
elas traziam o gosto
da sorte que anunciavam

A bala rosa descobri
que tinha gosto azedo
de amor de brinquedo

A azul anil era forte
deixou a boca ardendo
como a paixão se derretendo

A balinha branca
prometia a paz, que nada...
gosto de lágrima danada

Língua ficou roxa
com a bala desta cor
desilusões no sabor...

Redondinha e amarelinha
a balinha da energia
tinha gosto de magia

A melhor foi a bala
multicor, (aposto
que você sabe do que mais gosto...)
o gosto era de amor!

Anorkinda

 

.................................................................

 

Barca da beleza

É chegada a barca
da beleza!
Rendemo-nos à ela...
Senhora dos mares,
dos amores,
das cores da vida.

Que seja bem-vinda,
pureza!
Abracemo-nos em tela
caprichada,
retocada
na leveza dos ventos.

É a nossa travessia,
natureza borboleta...

De fazer da mudança,
uma bem-aventurança!

Anorkinda

.............................................................

 

Beijo de sonho

Um sonho antigo
certo dia
piscou-me

Era eu ainda
menina

E ele insistia
em piscar

Fizemos história
quando
num belo dia

beijou-me
num brilho
de faiscar!

Anorkinda

......................................

 

 Bela prostituta

 
Nos ares da rua
no brilho
da fria lua
 
Arrisca mais uma
aventura
o tempo lhe fuma
 
Nos bares ensaia
o depois
detalhe minissaia
 
Pisca o olho-sombra
colorida
nada lhe assombra
 
Nas luzes neon
a bela
prossegue sem tom
 
prostituta profissão
 
Anorkinda
 

.......................................................

 

Beleza fantasma

A lua incitava ao passeio
múltiplos guizos iludiam
os tementes em receio

A calma dela em rosto
alvo, resplandecia
noite de agosto

A escuridão e o frio
eram-lhe companhia
mistério, arrepio

A morte paria singeleza
reflexos n'água sugeriam
solução de eterna beleza

Anorkinda

 

..............................................

 

 Brado

 
Solidão...
o relógio
companheiro

De manhã
o grito:
Minha hora!

Canção...
parece bem cedinho

Da janela
vejo você alegre

Quem sabe abro:
- Aqui!

Anorkinda

........................................................................

 


Branca e o Príncipe

Em alva pele e escuros cabelos
Branca de Neve, órfã tão bela
nas mãos madrastas, destino
incerto em floresta fechada

Chegou à pequena princesa
ajuda dos animaizinhos
não a deixaram sozinha
na profunda mata entrou

Em casa de sete anões
foi acolhida com festa
e alegria, mas a inveja
madrasta não a largou

Provou da envenenada
maça, a princesa alva
e linda, uma pintura

Em semi-morte Branca
ficou até o dia certo
em que o Príncipe

Passou ali por perto
de onde o esquife
fora descansado

Em delírio de amor
o rapaz reconheceu
a linda princesinha
que um dia conhecera

Beijou-lhe o rosto
movimentando
assim seu corpo
e a fração maçã

Em sua garganta
alojada, asfixia
soltou-se logo
aliviando a moça

Sorriu a princesa
ao herói, salvador
celebraram os anões
a vida tão preciosa

Em castelo ataviado
casaram-se, baile
de gala e brilhos

coroaram-se Branca e seu Príncipe

Anorkinda

........................................................

 

Bruxa fiandeira

Ela queria ficar bonita
teceu uma fita colorida
Trançou um laço
Não quis abraço

E saiu pra aprontar!

Anorkinda

 

 

..........................................................

 

Busca

Atrevido
buscando um ar
respirável
o sujeito
criança

seguiu sozinho
pela avenida
da esperança

Anorkinda

.........................................................................................

 

Cafezais em flor

Hoje desperto com um novo perfume no ar
São de flores que nunca vi
Mas a fragrância é néctar a exalar

Abro a janela e com o sol a despontar
Vejo o espetáculo bem ali
Sem palco montado mas espetacular

Sabia que seria uma experiência sem par
Passar um feriado aqui
Em meio a natureza a transbordar

Guardarei para sempre o primor
da felicidade que sorri
Com a visão dos cafezais em flor

Anorkinda

....................................................

 


Canção

O canto foi alento
embalou a emoção
que jazia inerte
semi-congelada
em exaustão

Trouxe consigo
uma certeza

O canto era bento
iluminou a paixão
que hoje verte
desmesurada
em refrão

Abraçou comigo
a natureza

das sintonias

Anorkinda

 

..................................................................

 

Cantiga de ninar querubim

Embalar sonos e sonhos
é tarefa mística e encantada

Em nevoeiros e brumas
a barca do acalanto ruma

Afagar pequenos querubins
é missão mágica e sagrada

Em cantigas e melodias
a cadência do aconchego assovia...

Anorkinda

...............................................................

 

CANTIGAS DE CHUVA

Uma cantiga alegre faz a chuva
quando também brilha o sol
Casamento de raposa ou viúva
notas em escala bemol

Mais triste fica a cantiga
da chuva em grossas nuvens
Desaba uma choradeira antiga
relembrando velhas dores

A cantiga ficou irada
vociferando pelo céu
EM horas de trovoada
tons fortes em escarcéu

Quando a chuva é garoa
a saudade canta junto
É melodia suave e boa
cura um pouco o mundo

Mas a cantiga mais forte
é aquela dos grossos pingos
Com calor traz boa sorte
nas melodias dos domingos

Anorkinda

..........................................................

 

Carinho carijó

Tô preparada
aos cuidados
que você exige...

Canjinha quente
travesseiro fofo
lencinho de papel

O morango vermelho
é vitamina C
uma colher de chá

pra adoçar teu paladar!

Anorkinda

....................................................................

 

 

CASTELO VIAMONT (em Viamão)
 
Dizia-se que neste castelo
vivia um rei que versava
mas ele nunca era visto
um mistério rondava
 
Ouvia-se o enredo belo
de amor e felicidade
o rei era benquisto
mas se isolava
 
Sentia-se uma paixão
nos decretos reais
mas não sabia-se
a quem o rei amava
 
Inquiria-se à solidão
o que se passava
o rei era valente
mas definhava
 
Queria-se auxiliar
o soberano amado
mas não oferecia-se
ajuda, o tempo passava
 
Temia-se falar
assunto delicado
o rei era temente
a Deus e acreditava
 
na vinda daquela a quem idolatrava
e por isso, solitariamente, ele esperava
 
Anorkinda

 

..................................................................................

 

CATAVENTO VERMELHO

Mostre-me o vento quente, catavento.
Faça pirraça com o tempo ausente.
Mostre-me o vento vermelho, catavento.
Dê gargalhadas comigo, alegremente.

Vamos correr pelo espaço colorido.
Fazer piada com o vento, catavento.
Vamos brincar como um pássaro atrevido.
Assoviar a canção do tempo, catavento.

Vamos ser felizes, catavento vermelho.
    
Anorkinda

 

.................................................

 

 CATIVO

 
Ele ouviu o canto...
A andorinha voou pra longe...
O mar o chamava, lânguido...
 
Ele seguiu o encanto...
A sereia entoou a melodia...
O lar líquido, descanso...
 
Anorkinda

............................................................

 

CAVALO MANCO E SELVAGEM

Veio trotando torto...
O cavalo manco
que era também selvagem

Trouxe o galope manco
o cavalo bronco
que era também coragem

Veio a trote tonto...
O cavalo selvagem
que relinchou contente

Trouxe o galope louco
o cavalo coragem
que cativou toda gente

Anorkinda

.............................................................

 

Chá de amor

Sirva-se à vontade
de porções de amor
e bolachinhas
de variado sabor:

caramelizadas de carinho
amanteigadas dos amantes
broas de vida boa

Venha de boa vontade
compartilhar amor
e fantasias
de agigantado valor

Anorkinda

...................................................................

 

 CHÁ DE CRIANÇA

 
Serve pra brincar
de ser feliz!
Você traz brinquedos
e presenteia a você mesmo...
Você serve fantasias
e passeia em asas de borboleta...
Você convida amigos
e corcoveia no lombo do tempo...
Você bebe o chá da alegria
e saboreia o biscoito de maisena...
Você dança de par com a vida
e semeia a primavera da poesia...
 
Anorkinda

 

.........................................................................

 

Chimarrão com pipoca

Em noite quente de verão
à estrela que cai, faísca
peço com o coração
saltitando
pipoca

Em noite amena, outono
à cadente estrelinha
peço com a emoção
derretendo
manteiga

Em noite fria de inverno
à estrela que voa, ligeira
peço com devoção
esquentando
chimarrão

Em noite fresca, primavera
à viajante estrelinha
peço com paixão
sorvendo
o mate

verde dos desejos!

Anorkinda

......................................................................

 

 Chuva paixão

 
É quando as gotas transformam-se
trocando o estado líquido
pela audácia de voar
 
que o céu apaixonado
recebe a carícia
troveja a paixão
 
em total felicidade
chora seu cântaro
e banha-se de emoção
 
Anorkinda

........................................................................

 

CIGANA VIDA

Cigana vida é esta que busco
vida de liberdade, de vento no rosto

Cigana vida que tem mundo inteiro
por lar e parentesco amistoso

Cigana vida é aquela que invejas
vida de prazeres, de dança no fogo

Cigana vida é este suspiro
de mulher apaixonada e gentil

Cigana vida é aquela barba
de molho em hormônio febril!

Anorkinda

........................................................................

 

Coração de paz

Um coração
recauchutado
estava à vista
em vitrine de loja bonita

O preço era promocional
pois ele fora usado
sem cuidado

Um coração
já machucado
mas bem arrumado
para fins de comércio

O objetivo principal
é que com nova prática
e novo dono

ele seja instrumento de paz

Anorkinda

................................................................

 

 

Crianças da floresta
 
À luz da lua, em tons azuis
elas brincam no tom da vida
noturna, corujas e seus pios...
 
Na coragem, enfrentam escuridão
espíritos soltos na noite...
 
À revelia, instruções sábias
eles derivam do pulso da vida
soturna, expiações e seus brios...
 
Na coragem, desfazem maldição
espíritos livres na noite...
 
Anorkinda

..........................................................................

 

D. FIFI

Todo dia no salão
cabelereira confissão

Trololó com as amigas
Ninguém escapa das intrigas

Vida alheia é pura diversão
D. Fifi não esquenta com confusão

E bate a língua sem descanso
Fala do banana e do corno manso

Tem história e julgamento todo dia
Só não desiste mesmo é dessa mania

De contar pra meio mundo o que já se sabia!

Anorkinda

...............................................................

 

D. IRENE

Mais do que doceira de mão cheia
D. Irene era a própria doçura

Mais do que tortas e roscas
Ela incorporava a gostosura

Mais do que açúcar e glacê
D. Irene exalava ternura

Mais do que arteira, ela recheia
o pão de cada dia com melaço e rapadura!

Anorkinda

...............................................

 

Da boca solidão


À noite, a solidão
em leito de insônia
soluçando, povoa
os céus de vaga-lumes
e borboletas, a espantar
o Senhor do sono

O silêncio de ouro
desposou a liberdade
nas asas e braços
de Deus

À tarde, a solidão
em abraço de astros
soluçando, fala
de flores e cascatas
numa voz atroz, a velar
o caminheiro da paz

A verdura da grama
em noivado buliçoso
prende-se aos orvalhos,
palpitam as matas

Anorkinda

 

................................................................

 

Decerto...

Se os frutos amadurecerem
no tempo certo
Se as estrelas caírem
no lugar certo

Se as chuvas molharem
as estradas
Se as flores servirem
de contorno

Se os cabelos esvoaçarem
ao vento
Se as nuvens servirem
de adorno

O bem maior estará
por perto
A beleza será
bem-vinda, decerto...

Anorkinda

..............................................................................

 

Deliciosa cozinha

Ah...dá gosto comer o bolo de fruta
Saído quentinho do forninho antigo

Ah...cozinha delicada e recheada
de poesia e do carinho da chaleira chiando

Ah...o gatinho aproveitando o quentinho
dispensa chamego no bom soninho

Ah..aconchego de pequeno ninho
cuidado de fartura, ingrediente: amor!

Anorkinda

........................................................

 

Descalça

Vinha desfilando pela vida
vestido de seda vermelha
a atenção de todos chamava...

Cabelos perfeitos e vermelhos
sorria alegrias e simplicidade

Gostava de sentir o solo
por isso vinha descalça...

Anorkinda

...................................................................

 

DESCUIDADA

Ela caminhava pelas ruas da vida
caminhos e tropeços, pedras...

Ela descuidava, desatenta e bonita
pelos salões, bailes e festas...

Ela seduzia pelos olhares e trejeitos
detalhes e delicadezas, femininas...

Ela conduzia, os dias sem medos
pelas curvas da sorte, ela foi

atropelada pela felicidade!

Anorkinda

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 Dia safado

 
O dia fez caretas
pra mim
espichou os lábios
arregalou os olhos
jogou fora canetas
 
O dia fez pirraça
comigo
desembestou sem freio
correu até ser noite
fez piada sem graça
 
O dia fez novela
de mim
provocou meu choro
enredou uma intriga
fez fofoca na janela
 
O dia foi esperto
comigo
mas eu me vingo
amanhã não sairei
da cama nem por decreto!
 
Anorkinda

 

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Dorme e sonha

Dorme, garota, o sono
leve em conforto,
revigorante abono.

Sonha, garota, a trama
leve em absorto
idílio, tal uma dama.

Goza o descanso manso

num dia de alforria

Anorkinda

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Dos mistérios

De posse
da chave
dos mistérios

Ela foi
escolhida
iluminada

De volta
ao trilho
das descobertas

Ela foi
acolhida
abençoada

Anorkinda

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 É fácil

.
 
Fácil mesmo
é pegar na luneta
e descobrir um novo planeta
 
Fácil demais
é seguir a borboleta
e puxar o rabo do cometa
 
Fácil e seguro
é tocar a corneta
e tirar sarro do capeta
 
Fácil e rápido
é arrumar uma treta
e dar um trato na silhueta
 
Anorkinda

 

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E se eu pudesse...
 
Enfeitar corações
pulsaria diversos
ritmos
divertidos
de amor
 
E se eu pudesse...
 
Endossar contratos
assinaria versos
em favor 
de todas
paixões
 
E se eu pudesse...
 
Desembaraçar as vias
faria entradas
diretas
à alma
das canções
 
Anorkinda
 

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Ela...

Ela sorria infância,
nuvens cinzas
eram ilusão...

Se chovia,
era colorida
toda a fragrância...

Ela corria campos
atrás de borboletas...

Se havia
choro, era de alegria...

Ela alforriava sonhos...

Seduzindo a vida com paixão...

Anorkinda

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Ela é da moda

Ela diz que chegou de viagem
mas tem nenhuma bagagem
muito menos cultural

Ela diz que pagou pelo peito
mas do volume no beiço
jura ser natural

Ela diz 'chuchu' pras camêras
imita sensuais sereias
no gesto artificial

Ela diz um monte de bobagem
irrita toda a vadiagem
que quer o mais banal:

Ver-lhe nu o corpo escultural

Anorkinda

 

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Em casa vazia

Entrei em uma casa vazia
Senti os arrepios das sombras
Toques frios em mãos macias
Entrei no Reino das Brumas

Tremi ao frio de um dia
Andei pelos quartos soturnos
Densos fluidos das manias
Tremi ante os velhos tronos

Névoas de toda solidão
que se vive na escuridão
Adentraram em mim

Saudades de muitas eras
vividas em toque de esperas
Anunciaram mais um fim

Anorkinda

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 Em missão

 
Trouxe consigo o conhecimento das línguas
para falar das coisas que havia visto...
 
Chegou repleto do verbo mais certo
para tocar os corações mais vivos...
 
Desfiou cordas de ensinamentos
da forma mais lírica e louca...
 
Ampliou os universos individuais
da multidão embevecida...
 
Com seu dom a extravasar
cumpriu a missão de amar...
 
Anorkinda

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Empanturradas com elegancia

Chá da tarde
e guloseimas
distraem
distraem
e a conversa
vai fiada
costura
que nada
alinhavo mesmo
de fuxico
e descontração
empanturradas
elegantes
elegantes
como o urso
esbaldado
no mel!

Anorkinda

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Empresta, vai...

Empresta-me as cores da vida
Aquelas mais vistosas
banhadas de sol e alegria

Ensina-me o sorriso atrevido
Daquele de enfeitiçar
e que faz brilhar o olhar

Enlaça-me num abraço apertado
Daquele de sufocar
e que faz o coração esquentar

Empresta-me as asas de fada
Aquelas cor-de-rosa
guardadas em tua aura de magia

Anorkinda

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Encantamento

Eu encantaria o dia,
este novo
que está pra nascer...
Com rebrilhos
de alvorecer!

Eu encantaria o olhar,
que acarinha
sem precisar tocar...
Com lágrimas
a faiscar!

Eu encantaria o chão,
este solo
onde pisas, descuidada...
Com perfumes
de terra molhada!

Eu encantaria o verso,
que aninha
toda bela canção...
Com mágica
de montão!

Anorkinda

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Era uma vez...

Era uma vez um desejo
Desejo de rolar o mundo
Ele morava na menina
Menina de olhos grandes
Do tamanho do mundo

O desejo pulsava
no coração da menina
Menina queria rolar o mundo
de dimensões grandes
nas mãos da menina

Na brincadeira da vida
O desejo encontrou espaço
Do coração da menina
Desejo transbordou em euforia
manipulou todo espaço

O desejo comandava
cada brinquedo da menina
Menina de vontades grandes
Capazes de rolar o mundo
Em um jogo secreto de menina

Era uma vez um desejo
Que rolava mundos
em mãos de menina
Jogo divertido de refazer a vida
Pertencendo a outros mundos

Anorkinda

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ESPELHOS

De moldura marrom
o espelho refletia
um tenebroso tom...
Era morte em fria
execução.

Rodeado com fita
colorida, chamava
toda moça bonita
e o espelho executava
a maldição...

Já o velho espelho
no tom vermelho
emoldurado
estava ao lado
da morte/sedução...

Mostrando linda
dama que advinda
de um submundo
atingia fundo...
Assombração.

Quando o reflexo
era opaco, sem nexo,
o assombro vinha
de forma daninha...
Condenação.

Oblíquo fantasma
exalando o miasma
de um ódio
eterno e sem pódio,
matava em expiação...

No espelho ocre
a sobrevida certeira
era de cheiro/enxofre,
do inferno à beira...
Danação.

Vitimado o ser
lentamente vagava
num límbico viver...
aos berros clamava
por Ressureição.

Anorkinda

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Eu conheço a história
do contrário
Onde uma fadinha
beijou
um lindo príncípe
e no mesmo
instante
ele transformou-se
num rugoso sapo
lamuriento
e solitário

Anorkinda

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Eu iria

Embarcada na nave-mãe
eu iria na poltrona vip
Encantada de estrelas
eu, pra casa voltaria

Enovelada por mistérios
eu iria, toda chique
Enluarada de paixão
eu, satisfeita, sorriria

Enamorada por ETs
eu iria, pois soou o bip
Entusiasmada com a luz
eu, eternamente viveria

Anorkinda

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 Eu vou pra Pasárgada

 
Eu vou pra Pasárgada
lá sou amiga do Rei Ciro ll
Lá passeio pelos jardins quádruplos
perfumo-me nas mais belas flores do mundo
 
Eu vou pra Pasárgada
lá sou amiga da beleza infinita
Lá floreio versos e rimas ricas
banho-me na inspiração mais bonita
 
Eu vou pra Pasárgada
lá sou amiga da fantasia
Lá semeio a igualdade das gentes
deleito-me com as mais agradáveis companhias
 
Eu vou pra Pasárgada
lá sou amiga de todo o mundo
De lá presenteio em nome da Rainha
e faço-me emissária dos respeitos de Ciro ll
 
Anorkinda