de S a Z

 

 

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Sabor das nuvens

Delicados temperos há no céu estrelado
Leves açúcares de frutas, brancuras
Bálsamos verdes de folhas aladas
Com gostinho agridoce hortelã

Sabores faceiros de festa enluarada
Sutis perfumes de flores, salada
Tenras e salgadas iguarias salpicadas
Com recheio picante pimenta

As sobremesas mais finas
Ambrosias douradas
E tortas cabelo de anjos

Enfeitam os olhos divinos
Apetecem paladares
Eterno banquete das nuvens

Anorkinda

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Santo sacramento

O prazer foi repentino
valorizando o momento
poderia ser desatino
mas foi sacramento.
Por ter juízo e tino
ajustamos em cem por cento
nossas manias e o destino
tranquilizou-se, juramento.

Anorkinda

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Senhora dos mistérios

Das franjas do tempo
ela desdobrou mistérios.
Bebericou, sorvendo,
a essência das eras.

Comunicou do amor
insondável, a textura.
Das flores, recebendo
o aroma das aventuras.

Das páginas dos oráculos,
ela redesenhou o caminho.
Compreendeu, sonhando,
a languidez das feras.

Banhou as esperanças
maleáveis, a desenvoltura.
Das auroras, vertendo
o símbolo das farturas.

Anorkinda

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Senhorinha tricoteira

Me diz, toda faceira,
que habilidade é essa,
tricotar com tanta pressa?

É preciso ser arteira
pra fazer toda a cor
transformar-se com amor!

Me diz, tricoteira,
que boa-vontade é essa,
esquentar a humanidade?

É preciso ser certeira
pra ponto a ponto, enlaçar
tanto carinho, sem errar!

Anorkinda

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Sentidos afinados
 
Ao sentir os primeiros
toques do vento,
prelúdios de amor...
 
Percebi que a sinfonia
começara diferente,
notas de mais alto valor...
 
Fechei os olhos, 
sintomas de febre...
 
Ouvido apurado,
a vida esticando de leve
 
o cordão da afinação...
 
Anorkinda
 

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Seu norte

Ele vinha com o coração à mostra
Não importava-se com tempo feio
nem mesmo caras feias ou feridas
Ele vinha sempre de peito aberto

Ele tinha um amor verdadeiro
Não importava-se com os raios
nem mesmo trovoadas ou apagões
Ele tinha muito a se oferecer

Não convinha derramar-se
tal qual chuva forte
ao sabor da má sorte

Ele detinha o poder maior
do que qualquer morte
Ele era seu próprio norte

Anorkinda

 

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Sonho fértil

A dormir entre as flores
um sonho veio banhar-me
com o perfume do jasmim

Anjo dos maiores amores
esmerou-se a beijar-me
com a maciez dos céus

A ver estrelas e cores
uma visão enganou-me

Anjo dos muitos ardores
era fértil, emprenhou-me

Anorkinda

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 Sonhos sempre sonhos

 
Saem às ruas
todos os dias
os sonhos
em manias
de liberdade
 
Bailam nuas
todas as horas
as delícias
senhoras
em felicidade
 
Vertem cruas
nas salivas
as enzimas
gustativas
da criatividade
 
Brilham luas
nas escuras
horas noturnas
partituras
em luminosidade
 
Caem duas
estrelas belas
toda vez
que amarelas
em sobriedade
o vigor da boa idade
 
Anorkinda

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Sorte

Fiz meu estoque
de flores vermelhas,
marias-sem-vergonha
e não-me-toques

Só pra despetalar
e ver a sorte
pro meu lado soprar

Anorkinda

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Surpresa

Eu não estava à procura.
Por isto mesmo
veio em forma
de surpresa

este encontro
servido à mesa.

Mais parece arranjo

de um destino travesso!

Anorkinda

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Trovas e costuras

Quatro cores
quatro versos
são de amores
os universos

Na cor azul
do alinhavo
norte e sul
crio o favo

Tal colmeia
tons terra
dão a ideia
do que gera

No vermelho
grita fogo
bem no meio
vida e jogo

Tal folhagem
vem o verde
paz paisagem
pede a rede

No patchwork
trovo feliz
a boa sorte
vida aprendiz

Anorkinda

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Um começo na praia

Foi num dia de sol
que eles se viram.
Ele sorriu meio torto,
Ela girava o guarda-sol...

A areia estava quente,
jovens jogavam frescobol.
Ele com olhar de peixe-morto,
Ela, de vestido transparente...

Sem vontade de cair na água,
mulheres bronzeavam-se, indolentes.
Ele, navio sem porto,
Ela, um semblante sem mágoa...

Corriam crianças alvoroçadas
dizendo que viram mãe-d'água.
Ele, nela totalmente absorto,
Ela aproximou-se, desembaraçada:

- Quer dar um passeio até a enseada?

Anorkinda

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Um dia

Desvencilhou-se
do medo,
do dia-a-dia...
A rotina
esmerilhou-se.

E decidida,
inspirou-se...

No retoque
do cabelo
um coque.

Na cintura,
o descanso
da candura.

E tranquila
preparou-se...

Vestiu-se
de raça,
de sintonia...
À vida,
jogou-se.

Anorkinda

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UM LAGARTO NOS LENÇÓIS DE CARMESIM

Desviando de elevações macias
de cor carmesim
Ele prosseguia em suaves vias

Tu, profundamente dormias
sonho sem fim
suspirando por lindos dias

Avançando inocente animal
percebeu enfim
Estar em maus lençóis, afinal

Tu, de um salto magistral
pôs fim
ao distraído percurso matinal

Jogando o lençol carmesim
ao chão
violência de susto sem fim

Assustado lagarto mal sabia
dar vazão
à inocente curiosidade fugidia

Tu, em franca gritaria
chamou enfim
toda atenção solidária

Retornando o pobre animal
à rua, seu fim
sem maciez, sem as elevações do carnal


Anorkinda

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 Um perigoso triângulo amoroso!

(eu, a lua e eu)
 
Quando ela estava lá
a noite era mágica
no peito um baque trágico...
 
Todo o encantamento
era quase fatal
o jeito de me render, afinal...
 
Mas o mar, meu aliado
rebatia a meus pés:
- Não vás, serás tragado...
 
E eu, então lembrava-me
de minha integridade
e, novamente, da lua resgatava-me...
 
Anorkinda

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Vamos?

Vamos navegar utopias
e fazer poesias
sentindo a brisa
que à alma ameniza?

Vamos voar em idílios
e doar estribilhos
às canções de amor
que compomos em louvor?

Vamos caminhar juntos
e dar as mãos
como verdadeiros irmãos?

Vamos deslizar os assuntos
e começar sem rodeios
a alterar os fins e os meios?

Anorkinda

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Velhos tempos

Na velha vitrola
a canção antiga
a voz melodiosa
a memória girava

No velho peito
o amor antigo
o soluço mudo
o sossego sumia

tragado pelo túnel
implacável do tempo

Anorkinda

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Viagem
 
Acompanhando a viagem
os moinhos, lembranças
de antigos cavaleiros
e armaduras
e suas investiduras
a favor do sonho 
de cada dia
 
Percorrendo a estrada
redemoinhos, sombras
de pensamentos
em desalinhos
embaraçados
pelo vento
e paisagem
 
Escolhendo uma pousada
como passarinhos, criança
carente de carinhos
afundo-me em cama
estranha e macia
perfumo sonhos
de transitoriedade
 
Anorkinda
 
 

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Visível intimidade

Dobras pelas folhas
marcadas pelo tempo
visível intimidade
exposta aos olhares

Asas em movimento
cadenciadas, ritmo
íntimo da saudade
imposta aos pesares

Aromas pelas pétalas
delicadas, momento
indelével suavidade
dispostas a carícias

Ideias em confissão
acalentadas no frio
manto da sociedade
propostas e malícias

Anorkinda

 

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Vislumbres

Noite fria, sensação nova,
não conseguiu definir-se.

Na mente, um debate,
não conseguiu concluir-se.

Visão opaca, necessidade
de um chocolate quente.

Sem definição precisa,
o remédio é amar-se.

Anorkinda

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Vislumbres ll

Vislumbrou-se pelas frestas,
vestidos  e trajes de festa.
Um deleite, visão primorosa...

Mas, de fora, vida e prosa,
sentia apenas o perfume da rosa.
Um detalhe, que à memória empresta

todo o regozijo de um passado

feliz, hoje apenas vislumbrado.

Anorkinda