Nonsenses

 

 

A lágrima feliz

Caiu do olho, ela, a lágrima feliz.
Serelepe e faceira, não se conteve,
Quis conhecer o mundo colorido.

Deslizou pelo rosto, a aprendiz.
Sentiu a pele macia no toque leve
Sorriu ela, ainda mais contente.

Ela que nasceu de um sentimento
Puro e agradável, não se conhecia,
Quis se experimentar sem lente

Era impetuosa em arrebatamento
Descobriu o dia que amanhecia.
Sorveu ela, seu momento fluido.

Dissolveu-se no poro, seu Nada.
Realizada e completa lágrima,
Quis a fusão de seu domínio.

Feliz é a lágrima transbordada
Como manifestação e obra-prima.
Sonhou ela e conquistou seu delírio.

Anorkinda

...............................................................................

 

À MESA

Degustes...
Pequenos nacos de sonhos
Mordisco nas manhãs nubladas

Pratos cheios...
Fartas fatias de fantasias
Devoro em refeiçõs ensolaradas

Taças...
Uns poucos goles de delírios
Bebo nas tardes de ventanias

Jejum...
Picantes sonhos secretos
Salivo em noites enluaradas

Anorkinda

............................

 

ALDEIA

Ele não sabia
viver sozinho
Ele não cabia
em si, único
mas social

Ele era aldeia
alegre ninho
Ele era areia
grão unido
gravitacional

Anorkinda

..................................................................

 

 ALÍVIO DESCABIDO


Não coube
estava ali
sobrando

Não soube
estava ali 
boiando

Não houve
nenhum 
alívio...

Não louve
tanto assim
o delírio...

Pode ser descabido!

Anorkinda

...........................................................................

 

ALMA AO AVESSO

Rabiscos me ferem os sentidos
Em noite muda, sem estrelas
Pergunto-me se ainda ouço
O pulsar em minhas veias

Palavras me descrevem
Sem que eu perceba
Escuto-me e sinto
Um resfolegar desconhecido

Poemas me atingem em cheio
Ofuscam-me as vistas
Me delineio no abstrato

Verdades me corrompem
os versos, divago-me:
Foi em mim que estremeceu?

Anorkinda

..................................................

 

 Ao tempo


De repente
aquela piada
que antes eu dizia 
não cabia
em qualquer ocasião

De repente
aquela rima
que antes eu conhecia
não dormia 
mais na canção

De repente
eu escutei
o tempo que dizia
da zombaria
de ser ele tão veloz

De repente
Eu pisquei 
ao tempo que eu conhecia
e com ironia
desafinei-lhe a voz

Anorkinda

..........................................................................................

 

 As reticências das ideias


Perverteram-se em meio à festa
das palavras, um rebuliço!

As reticências em desalinho
mal se viam nos espelhos...

E o poeta, atarantado,
queria por ordem nos pensamentos!

Misturaram-se os pontinhos
de tal forma no enredo

que a fantasia nunca mais
acordou-se para a realidade!

Anorkinda
 

...........................................................

 

 

Assim foi
 
Foi como navegar
pelas nuvens
de um anoitecer
 
Foi como pescar
o sol de todo dia
 
Foi como amar
a natureza
em forma de poesia
 
Foi como evitar
de a vida escurecer
 
Anorkinda
 
.

.........................................................

 

Atenciosamente

Ternura que se adoça
no olhar, carinho

Atenção que se roça
no cuidado, sereno

Postura que se firma
nos atos, amenos

Fração que se sirva
nos apelos, sozinhos

Anorkinda

........................................................

 


Atmosfera de espera

Mesmo com a cor quente
vermelha, fluido
do coração

A atmosfera é fria
carente, descuido
da emoção

Mesmo com a companhia
verde, elementos
naturais

A espera é úmida
vazia, pensamentos
a mais

Anorkinda

.........................................................................................................

 

 AUSÊNCIA


Aprendi com tua constância, ausência querida
a lição aquela do desapegar-se, do querer-se
Resolvi os esquemas das equações terrenas
de conviver sem avolumar os problemas

Submeti-me as tuas vontades, ausência querida
e valorizei cada instante que era apenas meu
Adverti-me dos ardis da noite escura
a amedrontar os detalhes da armadura

Ausência...és o reflexo da presença
a antítese  da concretização
és o ponto alto da solidão

Paciência é tua namorada e crença
compartilhando tua missão
de ser do Alto, a conclusão

Anorkinda

...................................................................

 

Azul delicadeza

Refletido no azul
o Homem segue
navegando vidas.

A norte e sul
ele desliza
suas sinas.

Embutido no branco,
pureza da natureza,

estão os dons, em franco
estado de delicadeza.

Anorkinda

..................................................

 

 

Brinquedos
 
Das nuvens
que me habitam
a visão
faço divertimentos
 
Jogo com a luz
das  horas
 
Das garoas
que anoitecem
o dia
traço encantamentos
 
Rogo pelo fim
das trevas
 
Anorkinda
 
.
 

..................................................

 

CÁLIDA DÚVIDA

Um olhar
me perseguiu
tão singular!

Um tom
me perseguiu
tão bom...

Uma dúvida
me perseguiu
tão cálida:

A ironia
me perseguiu
em tirania?

Anorkinda

.........................................................................................

 

Camaleoa

A uma loa, adapte-me
De uma cama boa, rapte-me

promova o que satisfaça-me

Um quasar à toa, capte-me
Pulsando mensagem, camaleoa

remova o que não nos ressoa

Anorkinda
(usando as palavras da canção Rapte-me Camaleoa)

 

..................................................................................


 Cérebro, casa de esquilos!


Tico e Teco, meus neuroninhos sensíveis,
atabalhoados, muitas vezes, incríveis
fórmulas decifram, com gosto e afinco.
Mas se eu exagero e com eles brinco

querendo misturar as receitas da razão,
eles protestam, fazem greve, confusão!
Esquilos espertos, amam a tranquilidade
e satisfazem-se com as nozes da verdade.

Me auxiliam quando crio, em arte.
Me divertem na sacada inteligente
que eles me oferecem, às vezes.

Ah... meu cérebro que em parte
é morada de esquilos e de repente
também é plantel de muitas vozes!

Anorkinda
 

.............................................................

 

Da contagem de volta

Condicionamos
a desfolhar
os meses...
Calendário

Acostumamos
ao escorregar
das horas...
Horário

Festejamos
o passar
do tempo...
Aniversário

Afortunamos
ao desejar
tudo de novo...
Ao contrário

Anorkinda

.....................................................

 

Da libido

Devoro-te
o conhecimento
embutido

Degusto
teu padecimento
e sentido

Declamo-te
solene fruto
proibido

Denuncio
teu atributo
da libido

Anorkinda

...........................................................

 

 Da proposta


No poema
uma aposta
Assim, na vida
tantas respostas
possíveis, passíveis

No esquema
uma proposta
Assim, requerida
tantas são supostas
ou mesmo intransponíveis

Anorkinda

..............................................................................


DAS COMPARAÇÕES

Como gotas do mais puro
orvalho das manhãs
São os beijos refrescantes
na face dos tempos

Como lágrimas do maior
amor dos séculos
São os versos derramados
na poesia das vidas

Como respingos da mais pura
água das fontes
São as estrelas brilhantes
no céu das paixões

Anorkinda

...........................................................

 

Da saudade

Amiúde
memórias a torturar
vem em meu peito cantar

Alaúde
a tocar um cântico
melancólico e antigo

Saúde
definha a soluçar
vem, ligeira, a me faltar

Ataúde
a esperar um corpo
simbólico e semi-morto


Anorkinda

....................................................................

 

DELÍRIO DE MELANCOLIA

A cada vez que a lua surgia
Um pedido eu lhe fazia

Várias versões do mesmo
O pedido a esmo

Pois toda noite ela luzia
E pouco me satisfazia

Muitas vezes em choro
Perdi todo decoro

E briguei com a fantasia
Em delírio de melancolia

Anorkinda

...............................................................................

 

Desencontros marcados

Foi no dia especial
marcado pelo tempo
nosso memorial

Foi o dia sem igual
triturado pelo medo
nosso ancestral

Foi no dia do juízo
aquele sem final
onde colhemos o prejuízo

Foi o dia do desencontro
mania nacional
onde perdemos o prumo e o ponto final

Anorkinda

..........................................................................

 

Desenganos violetas

De todas as ilusões
a mais doída
é a desilusão violeta

Por várias gerações
é corroída
em desenganos violeta

Entre tantas tribulações
a mais sofrida
é a sensação violeta

Sem mais saudações
é travestida
em pétalas violeta

Em loucas sufocações
das mais pungentes
é o desespero violeta

Mistério dos corações
é inteligente
evitá-la maldição violeta

Anorkinda

..........................................................................

 

 DEVAGAR OU DIVAGAR?

O que é melhor?
Ir devagar
E não adiantar
O relógio dos sentimentos...

Ou divagar
E não segurar
O impulso dos pensamentos?

Anorkinda

..........................................................

 

 Diamantosos



Época pobre
trapo para 
viver

Criatura e vida
rios sem terminar
insanidade

Tom e trabalho
nascem no amor
desinteressado

Tempo e hora
transpassou
o passado

Mulher e filho
levam nas mãos
felicidade

Papel nobre
mundo gira
sem tremer

Sinto o  vivo
fremir da
consciência

Anorkinda

...................................................................................

 

DILÚVIOS DE INCOERÊNCIAS

Foram muitos dias de chuva
Choviam cântaros de incoerências
Ouviam-se gritos em recorrências
Murmurava-se em decorrência

Isto servia-me como uma luva
Discorria-me em reminiscências
Abrandavam todas as cadências
Soluçavam loucas, as dormências

Escorriam uma a uma
as sombras e máscaras
das mais falsas eloquências

Deliravam na bruma
as sedutoras metáforas
assassinas da espontânea fluência

Anorkinda

..........................................................................

 

Direitos e renúncias

Mesmo sem saber dos direitos
soberanos de existir sobre os escombros
eu tenho o versos mais do que perfeitos

Mesmo sem reter a denúncia
que me pesa os ombros
eu tenho a escolha da renúncia

Mesmo sem porquês, as canções sorriem

e eu permito que me desanuviem

Anorkinda

.............................................................


 Do tom dourado


Posso ser um reflexo
do Alto, uma refração
uma transparência
um espelho Criador

Mas sou mais complexo
debaixo do superficial
há uma profundeza
um aspecto sonhador

imaginando o tom dourado de todo amor!

Anorkinda

........................................................

 

Doido Deus

Dentro de dois dias
Derrubou doze horas
Disfarçou duzentos defeitos
Descortinou dúzias de delírios

Depois disse dez doçuras
Duvidou das delicadas diretrizes
Dobrou deslizes do diagnóstico
Deliciou-se doido, derradeiro

Desfez-se diabólico
Diáfano Deus do dormitório

Anorkinda

....................................................................

 

Dores-flores

Brotaram ali, bem na esquina
do pensamento

Eram multicores, eram flores
encantamento

Jorraram assim, num repente
de imaginação

Eram dores, mas agora, flores
da evolução

Anorkinda

.................................................................

 

Dos segredos

Quando os segredos
espreitam-se
à minha curiosidade,
sempre entrego-me
aos costumes,
de, calmamente
deixá-los livres
em meu pensamento
assim, mesmo que pouco
seja notado,
muito mistério
me é revelado.

Anorkinda

..................................................................

 

DÚVIDA

O que tem de realidade
E o que tem de imaginário
Neste árduo trabalho diário?

Onde termina a verdade
E onde começa a fantasia
Neste duro dia-a-dia?

Quem não se pergunta
E quem é que se responde
No mistério que se esconde?

Anorkinda

.........................................


 

Entranhas


Lágrimas
amigos
flores
Verão...

Claridade
tempo
saída
Vida...

Ilusões
vento
rosto
Inverno...

Lapidada
pele
cor
fim...

Anorkinda

 

 ..........................................................................

 

Esferas curvas espaços

dentro todos espaços
todos parados momentos
gasto sapato pensando
forma cadência movimento

dentro algumas curvas
gotas paradas pensamentos
gesto abstrato movendo
esferas prudência sofrimentos

ANorkinda

....................................................................

 

Estática paixão
 
O dia estático,
à espera...
O tempo não corre,
mas persevera.
 
Acordo tácito
no coração...
À mostra apenas
o que toca o chão.
 
Modo enfático
de cautela...
O segredo não grita,
mas desvela.
 
Humor ácido
em compulsão...
À revelia dos acordes
desta paixão.
 
Anorkinda

..................................................................

 


Eu sou como eu sou

Pronome definido
no feminino
dos gêneros

O agora vestido
no momento
dos sentidos

O presente lido
no movimento
dos tempos

Vidente perdido
no feminino
dos labirintos

Anorkinda

...........................................................

 

Exceção

Sou concentração
em paisagem
iniciática

Sou exceção
em contexto
monocromático

Sou contestação
em abordagem
sistemática

Sou exclamação
em ano bissexto
e performático

Anorkinda

.......................................................

 

Fim de inverno

Mês de agosto
quase finda
feliz
invernada

Aceleram as horas
os dias passam
manobras

Finda o mês
mais perto
o fim
do ano

Esperam as novas
os dias criam
esporas

Anorkinda

....................................................................................

 

Flor de chá

Na quentura do chá
brotou o mimo
a flor
delicadeza

Desenvoltura a raiar
em luz, aconchego
o amor
e a beleza

Anorkinda

................................................

 

FOME

Tem dias que dá fome
de coisa boa!
Aquela iguaria nobre
de salivar o olhar!

Não é fome, é gula!
É necessidade
de saborear diferente,
de trincar os dentes!

Será que isso é
carência
demência
ou tendência
à obesidade?

Anorkinda

...............................................................

 

Germinação
 
Quando de amor
e borboletas
fez-se a inspiração,
 
a raiz do verso
e a beleza
deram-se as mãos.
 
A vida fez-se tradução
 
e germinaram-se todos os grãos
 
Anorkinda

...............................................................


HOJE EU QUERO

Escapar da solidão
engolir o diapasão
e afinar a escuridão

Transgredir letras
burlar tuas regras
e dormir nas pregas

Silenciar os horizontes
colorir os montes
e captar os monges

Corrigir o livro
buscar abrigo
e fugir do castigo

Anorkinda

..................................................................

 

Horinha feliz
 
Às vezes a maresia
sussurra inverdades,
brincadeiras de Tritão...
 
Nessas horas eu sorrio
e libero as infelicidades...
 
Elas brincam nas marolas,
ganhando novos tons
na licenciosidade.
 
E eu, com minhas demoras,
minimizo seus frissons.
 
Anorkinda
 

 

.................................................................

 

Impermanente instante

Impermanente tempo
que me induz
à ventania

Impermanente desejo
que me conduz
em ímpeto

Impermanente vida
que me seduz
à revelia

Impermanente beijo
que me dá
sem medo

este instante primevo

Anorkinda

............................................................................

 

Implacável sensação

Sinais...
Lembranças ou promessas?

Úmida...
a pétala fere na cor rosa.

Desfalece a branca tranquilidade.

Implacavelmente chove desilusão...

Anorkinda

..................................................

 

 Impossível vento


Desbasta
Arrasta
leva consigo
vento
o enredo
impossível

Devasta
arrasa
deixa comigo
vento
o leme
impassível

do sonho

Anorkinda

..........................................................

 

 

Inexplicável azul
 
 
Sensação de chegar
ao cais
ao porto
a um fim
 
Decepção de encontrar
um vazio
um azul
sem mim
 
Anorkinda

...................................................

 


Infinitivo querer

por tanto te querer
e por você me querer
em total merecimento
e poder

desentendemos do querer
em desgaste, embotamento
e exceder

já não sabemos querer
distorcemos o fundamento
a se resolver

por tanto me querer
e por te querer
há um pranto lenimento
a escorrer

Anorkinda

 

.................................................................................

 

Íntimo desencanto

E por estar sempre à prova
meus instintos, alertas
ainda me provocam esgares

A transparência denuncia
as emoções, repletas
de espantos

E por ser casta e pura
aos olhos do amor,
ainda me faço espontânea

Pois nenhuma aparência
pode falsificar a cor
dos desencantos

Anorkinda

.....................................................................

 

Jovem

O laranja
vitalidade
encontrou-se
com o verde
jovialidade

Esboçou-se
assim
uma visão
de juventude
antenada
com a verdade

Anorkinda

................................................................................

 

LÁGRIMAS DE CHUVA

E a chuva chora lá fora...

Lágrimas transparentes
precipitadas de nuvens cinzentas

Nuvens recheadas
saturadas do líquido transparente

Líquido tradutor
das saudades dos belos dias

Belos e transparentes
dias em que as lágrimas evaporaram...

Anorkinda

......................................................

 

Leve felicidade
 
...Vez em quando
a lucidez
pousa em meu ombro
 
O burburinho
cotidiano
cessa...
 
Um breve sonho
feliz
desliza pelo oceano
 
E faz seu ninho
insano
numa nuvem
 
de borboletas!
 
Anorkinda

.........................................................................

 

LOUCURAS E ROSAS

Tantos aromas de rosas
Espraiam em noites de luar
Sensações rosáceas no ar
Delícias fragrâncias cheirosas

Tanta loucura em sonhos
Encantam em noites de luar
Delírios bailando no ar
Nossos planos tão risonhos

Ah...nossa loucura risonha
tão doce quanto enfática
inunda nossa alma que sonha

Ah...tantos aromas de rosa
tão suave quanto prática
flores de alma cheirosa

Anorkinda

.......................................

 

MEDO

Dividiu-se a galera
entre os que temiam
e os que enfrentaram

Concluiu-se a espera
pois que colidiram
os que saíam

a procura de solução
e os que encolhiam
em covardia e solidão

Anorkinda

........................................................................................

 

MINHAS ASAS

Asas que me elevam acima dos mundos
Me protegem do falso e do vil

Minhas asas buscam os profundos
paraísos de sensação febril

Asas que me revelam acima do fútil
Me expõem em gesto mudo

Minhas asas me levam ao mais sutil
recanto da Criação do Absurdo

Anorkinda

...........................................................................

 

Na balança das palavras

O que pesa na palavra
é seu sentido
às vezes ele é duplo
ou ainda tem homônimos,
desequilíbrios na balança....

O que também pesa
na palavra proferida
é o tom da voz interlocutora,
às vezes ele fere
mais que mil espinhos...

O que não pesa na palavra
é a verdade que ela contém,
às vezes promove um voo
como viagem em balão de gás...

ou como o mergulho
nas águas quentes de verão!

Anorkinda

..........................................................................

 

Na textura do tempo

enxergo o timbre e a matiz
desacelero em escuro verniz
sinto as cadências do tempo
absorvo o uivar do vento

dilacero segundos gritantes
reflito em cores ofuscantes
decoro as rugas salientes
liberto o amor incandescente

percebo melhor as saídas
quando pairo embevecida
na sonoridade do vento
na textura do tempo

Anorkinda

........................................................................

 

NONSENSE

Não tem sentido
retirar do fundo da terra
o motivo da lágrima
o sal, húmus do solo

Que intenso motivo
teria o humano que berra
para perverter
o nonsense da rima?

Não quero o absurdo
do choro que encerra
motivo perverso
neste teatro tolo

Que sofrida rima
sem motivo aparente
procuro trazer
sem noção nem obra-prima?

Anorkinda

...................................................................

 

Noturno

Um sentimento soturno
me acomete nas noites
em que a insônia me vence

É o vendaval noturno
das paixões abandonadas
aquelas presas no peito

Em noite quente e insone
elas saem em revoada
sem deixar um pó de sossego

Sôfrega e altamente imune
a tempestade de paixão
eterniza o terror na madrugada

Noturno inferno arrebatado
na loucura de aprisionar
a liberdade das paixões internas

Anorkinda

...............................................................

 

 O ARREPIO DO MEDO


Sinto-me estranha
quando o arrepio
do medo me apanha
desprevenida no frio
d'alma vazia

Faço-me mortiça
quando o arrepio
do medo me atiça
as entranhas e um fio
d'água alivia

o calor maçante, pavor

Anorkinda

..........................................................................

 

O MEDO DA MORTE

Um dia a morte amanheceu
com medo!
O dia era frio e cinzento
era cedo...

A morte em estado de amnésia,
temeu...
O dia estava amedrontador
e escureceu!

A morte trêmula e nervosa,
vazia...
O dia estava repleto de perfeição
e ironia...

A morte rompeu o riso largo
da loucura!
Num dia assim, surtado,
saímos da clausura...

Anorkinda

..............................................................

 

PARADA

Num dia sem tempo
fiquei assim...parada
como o firmamento
em duplo reflexo

No piscar de um momento
fiquei ali...extasiada
como o próprio tormento
congelado e sem nexo

Num minuto fora do tempo
fiquei assim...arrebatada
como o pensamento
em fluido circunspecto

No pulsar de um batimento
fiquei ali...encravada
como o próprio sentimento
perturbado e expecto

Anorkinda

........................................................................

 

Quanto tempo você quer

Para correr atrás de objetivos
e desfazer-se dos receios
Para distorcer os perigos
e reproduzir devaneios

Para idealizar amores
e sofrer as decepções
Para espalhar as cores
e eternizar-se em canções

Quanto tempo você quer
entre o ontem
e um amanhã qualquer?

Quanto tempo você tem
a partir de hoje
e até próximo desdém?

Anorkinda

..............................................................................

 

OLHOS DE SENSAÇÕES

Fico assim a observar pássaros
ou flores e árvores...
Enlevada, algo desequilibrada
lembro dos mártires....

Penso em sensações estranhas
em soluços e dúvidas...
Fragmentos de sentimentos
em pupilas úmidas...

Fico aqui a filosofar nuvens
ou atalhos e desvios...
Diluída, um pouco alterada
em sombra e arrepios...

Teço teorias independentes
em mente intuitiva...
Momentos de entorpecimentos
deixo a poesia à deriva...

Anorkinda

.....................................................

 

Os semiventos

Quando pelas frestas
eles entram, invadem
mesmo invisivelmente

Quando pelas brechas
eles sopram, agridem
até implacavelmente

Quando pelos vãos
dos sentimentos
mal-resolvidos

Os semiventos
incompletos

não traduzem-se
nem em versos

Anorkinda

.........................................................

 

 

Para ser maior
 
Imaginar para criar
e dos caminhos
e dos espinhos
fazer-se cura
sagrar-se pura
 
Persuadir para amar
e poder voar
e fazer soar
sinos de candura
pontos de fervura
 
para um sol maior
 
Anorkinda
 
.

......................................................................

 

Pr'amanhã

Derrete-me o vestir
para que despida
de comprometimentos
eu não seja corrompida

Para que a névoa
cinzenta da vida
não me descubra
não me veja ferida

Dilui-me ao vestir
a transparência
dos sentimentos
gélidos de ausência

Então em meu ocaso
serei a plena essência
esplêndida e desnuda
a transpirar clemência

Anorkinda

.........................................................

 

Pra hoje

Derrama-me o azul
para que vestida
com o firmamento
eu seja destemida

Para que à noite
esteja escondida
a face que expõe
a falta cometida

Despoja-me o azul
límpida frialdade
do comprometimento
com a fatalidade

Em morno descaso
matiz casualidade
aparência que depõe
a favor da neutralidade

Anorkinda

................................................

 

Pra se molhar

Fragilidade
em água corrente

Da chuva
que pinga contente

Meu barquinho
é ilusão lírica e fluente

Anorkinda

............................................

 

 Quando a Lei

é feminina
o Verbo
pia fino
esquecendo
que é masculino
para não danar-se
na malha fina.

Anorkinda

..................................................

 

Rascunhos

Por dentro do vendaval
do tempo que arrasa
com todos os momentos

O homem avança bem mal
sem acoplar a asa
da liberdade aos sentimentos

Os álamos da história
falam como testemunhas

Guardam a memória
de tudo o que se rascunha

Anorkinda

............................................................


Recorrências

Remos que impulsionam
este meu caminho
pelos veios do destino
nem sempre aprisionam

inserido barco fluido
percorre tão sozinho
pelos vãos do desatino
nem sempre eu me cuido

conexões verdes vivas
sementes pelo caminho
anunciando novo destino
nem sempre são cativas

no caminho nunca reto
cada um é sozinho
vertente de desatinos
recorrente sina do homem ereto

Anorkinda

..............................................................

 

Redescoberta

Descobriu-se
depois
de um tempo
longo.
Redefiniu-se
após
uma jornada
longa.
Denunciou-se
antes
que o tempo
cobrasse.
Relembrou-se
avulsa
em cada
impasse.

Anorkinda

....................................................................

 

REFLEXO: MISTÉRIO OCULTO

No espelho
reflexo, mistério oculto
O que ele mostra?
devolve luz: espectro

Me percebo
névoa, segredo oculto
O que me escondo?
revolvo poeira: espectro

No mundo
sombra, luz oculta
O que me mostra?
reflete mistério: espectro

Me distingo
fluido, poeira oculta
Por que me escondo?
possuo segredo: espectro

Anorkinda

...........................................................................

 

Ritos do subconsciente

Da noite escura dos mitos
cavalgadas de fantasia
a névoa cobre o desvario
das histórias fantásticas

seres alados e feitiços
personagens do imaginário
tão pungentes os desvios
do subconsciente planetário

na trajetória dos ritos
exalação dos incensários
os seres humanos malditos
introduzem medos desnecessários

Anorkinda

...........................................................................

 

 Roubo


Furtaram-me aquelas cores
que eu nunca vi rebrilhar
Furtaram-me doces sabores
que jamais atiçaram meu paladar

Roubaram-me as estrelas
de um céu sempre escuro
Roubaram-me, por tê-las
a piscar brejeiras na imaginação

O ato do roubo
deu-se silente
notei-me em arroubo

Quando, do furto
ganiu de repente
um bramido de susto

Anorkinda

...........................................................................

 

Rosáceas impressões

Dos homens e suas falácias
perdemos toda a paciência

Da beleza em rosáceas
formas, temos ciência

Dos medos e suas entrâncias
julgamos circunstâncias

Das marcas na areia
suspeitamos sereias

Anorkinda

.........................................................................

 

Saltando o tempo
 
Ah... mas eu quis transformar o dia
e os meses e os anos de minha vida
Saltando o tempo, fui logo inserir-me
na rotação das horas mais fugidias
 
Desregulei o compasso astral
e os ponteiros e as digitais
Desprezando o tempo, soerguida
na vibração do pulso sideral
 
Ah... por um triz levantei o sol
e os astros e os meteoritos
Planando o tempo em fractais
na reverberação do arrebol
 
Anorkinda
 

....................................................................................

 

 Se eu fosse outro


Eu seria meio brilho, meio opaco
Eu seria meia-luz, meio-dia
Eu teria outro nome, meio-fraco
Eu teria outra luz, meia-sintonia

Seria toda a Criação, a emanação
Seria a peça-quebra-cabeça
Se eu não fosse quem sou
Se anunciaria o que me criou

Anorkinda

.....................................................................

 

SEGREDO

Havia ali aquele mistério
daquele tipo que ronda
no nível semi-etéreo

Havia por ali um segredo
daquele jeito que assombra
o espectro do medo

Havia a promessa de degredo
sem volta ou absolvição
num aspecto de arremedo

Havia um ritual de império
sem perspectiva ou ação
onde a escuridão era refrigério

Anorkinda

.........................................................

 

Sentimentos ao vento

Dos verdes em canteiros
meus parceiros

Inscrevi meus inteiros
e fagueiros

Sentimentos

Em uma carta brejeira
mas verdadeira

Verti a alma inteira
e à maneira

de delírios

ao vento os submeti!

Anorkinda

............................................................................

 

Sentimentos chuvosos
 
Em dias chuvosos
parece que as notícias
ruins chegam cantando
 
Dá vontade de colorir
o ar com vestes leves
 
Mas a umidade derrete
esperanças e as delícias
 
Anorkinda

.................................................

 

SINGULAR

Quis te devastar
mundos
de singular
substituição

Quis teu mundo
meu singular
substituto
a devastar

Quis a singular
 substituição
devastação
de teu mundo

Quis substituir
devastadoramente
teu mundo
singular!

Anorkinda

....................................................................................

 

Sob o olhar da poeta atrás do espelho

fitava-me a poeta
aquela que vivia atrás do espelho
tinha ela o semblante vermelho
ruborizava?
enfurecia?
eu não sabia

julgava-me o reflexo
naquela atitude mesquinha
queria ela, sozinha,
apequenar-me?
apoquentar-me?
eu não sabia

acenava-lhe com os olhos
pr'aquela pose desvanecer-se
ou mesmo liquefazer-se
em luz
em pó
eu não sabia

divagava-me sob o olhar
daquela atriz absurda e muda
até mesmo algo sisuda
estranha
medonha
era eu?

eu não sabia!

Anorkinda

..................................................

 

 Subalterno


Suba...eterno
Suba...sem termo
Suba...tempo
não me espere.

Subalterno meu...
Tempo das esperas
suba...com o vento...
Não me leve

Anorkinda

................................................................

 

Tempo de oportunidades

Quando o tempo
abre-se numa fresta
a esperança
é primavera

É a oportunidade
que espera
qual criança
doida pra fazer festa

Anorkinda


 

..................................................................


Tempo vazio

Persiste o tempo do vazio
instituído pela sombra
de uma felicidade perversa

Da felicidade inversa,
um tempo doloroso
coexiste com o frio

Insiste o tempo e as horas
a lançar-nos à penumbra
de uma realidade adversa

Da realidade diversa,
um tempo sinuoso
resiste às demoras

Anorkinda

.............................................................................................

 

Tentativas

Nos sonhos: descobertas.
Lembro frases encobertas
De luz e escuridão.

Lembro um cheiro
Lembro uma voz
Que mistério escondo no travesseiro?

Tento sonhar
Tento lembrar
Quero descobrir tudo o que sonho?
Ou no sonho descubro tudo o que quero?

Anorkinda

........................................................................

 

 TESOUROS


Revirando guardados em busca
de algum documento perdido
encontro tesouros!

Esquecidos na poeira
da bagunça

Descansados na miscelânea rica
dos absurdos!

Anorkinda

..........................................................................

 

TEXTURA DO TATO

Sentir a textura que as coisas tem
é mais do que a atividade
de um órgão dos sentidos

Sentir a textura que as coisas tem
é saborear na ponta dos dedos
o gosto macio ou poroso

Sentir a textura que as coisas tem
é abusar de criatividade
dos sensores do tato

Sentir a textura que as coisas tem
é ter na pele os arremedos
e desfrutes de um fino paladar

Anorkinda

.........................................................................................

 

VAGA SENSAÇÃO DE CALOR

Vaga por mim uma estranha sensação
Circula ao meu redor um calor, meio pavor
Estremeço...arrepio...parece paixão!

Acho esquisito, totalmente sem noção
Desejo a quem não sei, meio que pirei
Passam por mim partículas de confusão!

Fora de mim, refugio a solidão
Num ataque ardente, meio deliquente
De abraçar o substrato da razão!

Anorkinda

..................................................

 

Vazias, verdadeiras...

Vítimas vazias
Vislumbram
Volteiam
Vagam vorazes
Vasculhando
Ventres velhos
Vontades vis
Vertendo veias
Voláteis
Veludos vermelhos
Vulgarizam
Vitórias verdadeiras

Anorkinda

.........................................

 

VAZIO

Tão frio
o macio
despetalar

Muito céu
um breu
a ofuscar

Tão arredio
o cicio
sussurrar

Muito bom
sem tom
a alardear

Tão vadio
e fugidio
encontrar

Muito sermão
de antemão
a censurar

Vazio
Arrepio
na alma

Broto
Esgoto
sem calma

Saio
Ensaio
meu nada

Anorkinda

............................................................

 

VEJO UM CIRCO

Na vida vejo um circo
picadeiro de destinos
a luz foca o artista

No centro deste círculo
espetáculo e desatinos
arte faz a rima mista

No fogo de um círculo
malabarista de sonhos
o perigo ilude a platéia

Na jornada deste circo
mágica e rostos risonhos
o palhaço refaz a estréia

Anorkinda

.....................................................................

 

vermelha flor

Oriente-se no passo a passo
vermelha cor, energia de amor
 
O caminho floresce, carinhos

Desate-se de todo nó e espinhos
vermelha cor, compasso de amor

A vida favorece seu traço

Anorkinda

......................................................................................

 

VIAGEM À MARTE

Sempre ao longe há uma esperança
Ao fim de uma longa viagem
Novas oportunidades em dança

Focando ao longe: um planeta
Sem levar pesada bagagem
Na velocidade de um cometa

Marte, o planeta vermelho
Mistérios debaixo da roupagem
Viajo no reflexo do espelho

Impossível fugir de si mesmo
Processo de sideral bobagem
Vejo imagens marcianas a esmo

Porque mesmo em esfera
Quântica e estelar paragem
Íntima particularidade me espera

Anorkinda