de M a R

 

 

Manhã de bruxa

acordei com a lua
a despedir-se
pisquei ao sol
retina nua

vociferei iras
saudades da lua
vomitei desaforos
e recolhi as piras

sorvi amarga poção
relembrando o sonho
em noite quente
chamei assombração

piei como a coruja
vesti-me de preto
alcei voo matinal
ainda de cara suja

não suporto a luz
manhã depressiva
vou buscar almoço
mandinga e alcaçuz

Anorkinda

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Melodia

Seu vestido era vermelho
tinha a exuberância
dos tempos dos fartos tecidos

Carregava um castiçal
velas acesas
a espantar a escuridão

No ar, uma melodia...

Era o mistério do tempo a tocar....

Anorkinda

 

...............................................

 

Metamorfose

Parecia não ter remédio
a dor era certeza
era presença
constância

Parecia de um reino
obscuro e reza
nenhuma
sanava

Parecia o pior resultado
de diversa natureza
era sentença
experiência

de morte em vida

Anorkinda

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 Minguante

Depois da trajetória lua
pelos dias, rotatória
Depois de exibir-se cheia
num longo expandir-se

Observo seu movimento revés
maior é meu deslumbramento
Observo sua silhueta reduzir
cumprindo com a etiqueta

De esconder-se acanhadamente
após tamanha exposição
Estabeleço uma comparação:

Se depois de meu deleite mágico
precisarei em submissão
minguar-me de insatisfação?

Anorkinda

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Moça em lua grande

Somente em noite de lua grande
quando as águas do lago negro
prateiam em rebrilho diamante
é que a moça pode ser vista

Ela caminha calma e lânguida
em direção à densa floresta
pranteia um imenso desamor
escuridão é o que lhe resta

O encanto traz má sorte
quem a vê, assim triste
suspira junto à morte

O bom é imitar a bruma
evitar a visão sinistra
e desconhecer-lhe a pista

Anorkinda

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MOINHOS DE VENTO

Moinhos de vento na produção
são braços eficientes
que convertem a voz dos ventos
movimentando turbinas
de usinas
e processamentos

Moinhos de vento na escuridão
são seres trágicos
que combatem com os ventos
lutando cheios
de anseios
e tormentos

Moinhos de vento na imaginação
são hélices mágicas
que conversam com os ventos
contando histórias
de glórias
e arrebatamentos

Anorkinda

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Mosaico de sons

Acordes se ouvem
a cada ponto traçado
nos dedos dela
a arte do bordado

Mágica e cor
pontuam estrelas
essência de amor

Graciosidade em tons
a cada nota vertida
nos lábios dela
a canção da vida

Fôlego e inspiração
manuseiam entrelinhas
sutilezas da paixão

Anorkinda

............................................................

 


Mundo de sonhos

Sonho arco-íris
era o barco à vela.
Navegava em nuvens
de pensamento.

A imaginação
buscava estrelas.
Dormia a lua
em sono solto.

A fantasia
era minha e dela.
Transbordavam rios
de bons sentimentos.

Risonho trilho,
reinava a maciez.
Satisfazia-me
este mundo louco.

Anorkinda

.......................................

 

NA NOITE FRIA

Na rua deserta
O vento acerta
A janela aberta
A alma desperta

Na noite fria
O cão latia
O corpo tremia
A alma vazia

Anorkinda

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Nas nuvens
 
Era costume
ao ver passar
uma nuvem
em seu calmo
compasso
 
Fazer dela
uma versão
imaginativa
 
Fazendo sorrir
a alma criativa
 
Anorkinda

 

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Negro misterio

A asa, pétala negra
sugere arte, inspira

A íris, lente negra
sugere parte do que mira

A sombra, luz negra
sugere: Que o mistério se insira!

Anorkinda

.................................................

 

Neguinha fulô

Ela vem dizer
- Bem-vinda!
Que seja linda
a vida de cada um!

Ela vem colorir
No motivo xadrez
cada dia do mês
pra dizer:
- Somos todos um!

Anorkinda

 

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NO CALDEIRÃO DA BRUXA TEM...

Três asas de mosquito
Uma porção de vento
E um dente de vampiro
frustrado

No caldeirão a bruxa ainda coloca...
Água do joelho da cobra
Pó de arroz doce
Meio leitão assado

E depois de um 'PUM' verde
A bruxa oferece
a escaldante poção
Aos desavisados

Que não souberam sorrir para a sorte!

Anorkinda

.......................................................

 

No escuro

No escuro das noites
Nem a lua se atreve
a esgueirar seu luar

O domínio das criaturas
sacis e lobisomens
é solene e sem par

No manto noturno
Negro e denso
a espreitar devagar

Estão as corujas
e noctívagos seres
é perene o assombrar

Anorkinda

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No mar, um sonho

No dia do Sol, este dia sem tempo,
busquei o sal do mar, passatempo...

Encontrei uma réstia de sonho,
num ponto de luz muito estranho...

Tinha o aspecto em desvario,
como o rosto do amor doentio...

Era uma ilusão extraviada,
flutuando na onda salgada...

Disse-me que tinha saudades,
momentos puros de veleidades...

Quando ela chorava lágrimas,
salinas como o mar das lástimas...

Pois hoje este pequeno sonho,
infeliz em seu estado medonho...

Apenas vaga nos mares do tempo,
sem esperança nem passatempo...

Anorkinda

..........................................................

 

NO SONO

Entretida durante o sono
com tanto sonho bom
esqueço que o  trono

de um poderoso rei
com rainha em tom
de devaneio, é lei

imaginária e meu dom

é viver neste abandono

Anorkinda

....................................................

 

NOITES COR DE ROSA

Frescor oceânico
no meu reino
feminino profundo

Amor dinâmico
com cheiro
divino e risonho

Convívio harmônico
dos reinos
encantados e fluidos

Passeio titânico
pelos cheiros
rosados dos sonhos

Anorkinda

......................................................

 

NOS ARES DESÉRTICOS

Areia...
Universo dos calores
Madrugadas frias
Areia...

Ares...
Quentes ventanias
Atmosfera dos amores
Ares...

Desertos...
Mundos singulares
Inúmeros desafios
Desertos...

Decerto,
Voarei em arrepios
Reconhecerei lugares
Decerto...

Me encontrarei em ares desérticos!

Anorkinda

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Notas e lágrimas

Sem o carinho da inspiração
o artista vê rachar-se a emoção.
As notas que vertiam espontâneas
agora parecem mortas, momentâneas.

Não respondem mais ao coração
que, pelo anjo, clama em vão.
As sintonias que floresciam soltas
na canção, agora são lágrimas revôltas.

Anorkinda

 

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Notas bailarinas

Sutilmente, como um verso tímido
ela chegou em sapatilha rosa
de ponta, acompanhando compassos

Deixou-se levar pela melodia
ela inspirou profundo
e curvou-se, os olhos rasos

Divinamente, como a poesia viva
ela dançou acompanhada
pelo espírito clássico das eras

Anorkinda

..............................................................

 

NOVIDADEIRA

A moça é novidadeira
sempre atenta
à última moda

Pode ser vestuário
momentum planetário
ou um novo documentário

Pode ser colorido
um mote divertido
ou um bizarro vestido

A moça é novidadeira
nunca esquenta
por tudo ela roda

o mundo, entregue e verdadeira!

Anorkinda

...........................................................

 

 O ANJO DOS SONHOS

Posso voar
segurando sua mão
e repousar
em seu colo

Posso andar
à beira de abismos
e confiar
em sua proteção

Posso navegar
nas tempestades
e aportar
em sua segurança

Posso sonhar
sem medo
e vicejar
em sua visão

Anorkinda

.............................................................................

 

 

O Bem Silencioso
 
Estava ele atento a todas as situações
em que pudesse intervir e ajudar
 
Andava ele afoito na intenção salutar
de praticar atenciosas e boas ações
 
Dizia-se que não gostava de exclamações
e só fazia caridade se fosse esta discreta
 
Fazia-se amigo de professor e de poeta
conduzia até o coro em ternas canções
 
Intencionava a paz a todos os corações
e que vivessem em simples harmonia
 
Praticava a delicadeza de uma sinfonia
ditada pelo pulsar quieto das emoções
 
Anorkinda

 

...............................................................

 

O Duende do fuxico

Pra garantir
que o ponto
saia certo

que o nó
não se desate

é bom ter
o duende do fuxico
como amigo

Ou ele desfaz
a trama

desbota
o colorido
da amostra

e ainda ri
fazendo troça

Anorkinda

....................................................

 

O ESTRANHO DO SONHO

Fragmentos
De inconsciência
Um estranho
Sem consistência...

Seria derradeira
Sua existência?

Fragmentos
Da consciência
O estranho
E sua providência...

Seria derradeira
Sua onisciência?

Anorkinda

...............................................


O fim do São João

Final da fogueira
a brasa vermelha
o olhar de esguelha

Casal da quadrilha
desfez-se ligeiro
cadê o casamenteiro?

Subiu o balão
sumiu-se na escuridão
apagou toda paixão

Anorkinda

.................................................................

 

 O Passeio da Morte

 
Ouvia-se histórias sobre o casarão
Dizia-se que em noite de lua cheia
O falecido voltava a vagar por ali
Na companhia, claro, do gato preto
 
Dizia-se que o reflexo de uma lua
duplicada, avisava do fenômeno
e quem temia, dormia mais cedo
nem noite de bruxa era tão sombria
 
Seu Tomé era o zelador do casarão
Ouvia-se que ele iluminava o passeio
do falecido pelo jardim, entristecido
com saudades do calor da vida
 
As estrelas também sentiam pena
e caíam sobre a noite, consolando
aquele que jamais se conformara
com a gélida roupagem da morte
 
Anorkinda

...................................................................

 

 O Sol e a Montanha

 
Eu era um pequenino filhote
vivia em meu ninho
nada tranquilo
ansioso
esperando alimento
 
Os dias eram sombrios
vivia temendo
o barulho
fraco
sem conhecer o mundo
 
Eu me fortalecia, pássaro
treinava as asas
e a visão
ansioso
esperando pelo voo
 
Antevia o que viria após
treinava habilidades
mas receava
ainda
sem conhecer o mundo
 
Eu finalmente cresci
abri minhas asas
e com coragem
ansioso
flanando pelos ares
 
Descobri a luz do sol
abri meus olhos
maravilhado:
detrás 
da montanha, o mundo!
 
Anorkinda

.........................................................

 

O sorriso da boneca

Amar era o sentido
do sorriso da boneca
Nada mais refletido
no pequeno rosto satisfeito

Brincar era o objetivo
da dona da boneca
Nada menos primitivo
no pequeno mundo perfeito

Sonhar era o brinquedo
da menina e da boneca
Sem sombra de medo
no perfeito mundo satisfeito

Anorkinda

.......................................................................

 

 O TREM DE DOMINGO

 
Apitou forte logo no domingo de manhã
o trem fazia a última chamada
vamos embora...já é hora!
 
Rasgar paisagens verdes de montanhas
o trem fazia sua boa jornada
vamos viajar...nos encantar!
 
Sacolejou faceiro nos trilhos do prazer
o trem trazia a turma animada
vamos sorrir...nos divertir!
 
Abraçar os vales floridos da natureza
o trem trazia buliçosa cambada
vamos partindo...já vou indo!
 
Anorkinda

.......................................................................

 

 

O Trem vai pra Pasárgada
 
Lá somos todos amigos do rei
ele faz versos, me banquetearei
Nosso trem vai pra Pasárgada
Nossa poesia em nova morada
 
Lá seremos bem tratados
os garçons serão alforriados
Nosso trem vai pra Pasárgada
Nossa amizade em florada
 
Na primavera chegaremos
todos de mãos dadas
à felicidade, brindaremos
 
Em boa saúde, a poetisa
falará com as fadas
seremos abençoados com a brisa
 
Anorkinda

...............................................

 

O violino mágico

Acordes mágicos
fluíram como rios
de puro enlevo

Notas mágicas
acordaram fios
de eternidade

Tom mágico
subverteu vazio
de duro relevo

Violino mágico
corrompeu o brio
da sagacidade

E deleitou as esferas

Anorkinda

........................................................

 

Olhar poente

Alargo o olhar
e do poente
revejo histórias
contadas ou vividas?
Histórias de vidas,
convívios e memórias...
Até onde a intuição me alcança.

Anorkinda

.......................................................................

 

 

Onde está a verdade?
 
Ela escondeu-se bem
ninguém a encontra
 
Tem gente que diz 
que a viu muito bem
 
Tem outros que acham
que ela fugiu de trem
 
Onde está a verdade
de todas as coisas?
 
Muitos a viram de noite
uivando sozinha pra lua
 
Alguns juram que ela saiu
sambando num bloco de rua
 
Ela fugiu dos mortais
ninguém a detém
 
Tem gente quem nem dorme
pensando encontrá-la na mente
 
Tem outros que se consomem
rezando pra que ela volte contente
 
Para apaziguar tanta cisma
e espantar a mentira do mundo
 
Anorkinda

...............................................................

 

 
Onde está meu planetinha?
 
Lá deixei a rosa preferida
a intimidade de mim...
meu planetinha
onde está?
 
Lá está meu reino
perfeito em mim...
onde está
você?
 
Lá voltarei agradecida
refeita em mim...
meu planetinha
me espere!
 
Lá ficará pleno
tudo em mim...
me espere
logo logo voltarei!
 
Anorkinda

 

..........................................................................................

 

Orvalhos dos anjos
 
Todas as manhãs o grupo desce
para recolher gotículas matinais
 
São os frescores da noite
banhados pelo bom dia do sol
 
São os mistérios da lua
armazenados na transparência
 
São os amores da gente
cristalizados em inocência
 
São os refrigérios da luz
condensados de forma magistral
 
Todas as manhãs a vida reabastece
os céus através das mãos angelicais
 
Anorkinda

................................................................................................

 

Os leões do caos

Quando a cerimônia começar
seria bom estarmos todos acordados
de acordo com a ocasião
devidamente fantasiados

Quando os leões estiverem na rua
e o caos instaurado
de bom grado
estaremos todos de saída

devidamente preparados
com as malas prontas e não olharemos para trás!

Anorkinda

.....................................................

 

PAMPAS

Na querência querida
afundada de vida

Imensidão de mansidão
verde em extensão

O tropeiro vai trôpego
qual cavalo cego

O peito vai sem jeito
Atropelado, meio afoito

O gaúcho guasca
Se atrapalha com o que passa

No coração orelhano
Sem saber dizer eu te amo

Castiga o pingo
melhor amigo

Com resmungos roucos
com palavras loucas

O sol dos pampas
pouco aquece as guampas

E no frio da madrugada
sem a chinoca amada

O vivente veste o céu
E se confunde com o breu

Anorkinda

.....................................................

 

Passeio dos mortos

Atmosfera lúgubre
véus arroxeados
em céu obscuro

Cavalgadas mortas
liras são ouvidas

Falanges passam
céus condensados
em véu poético

Caminhadas mortas
folhas estão caídas

Anorkinda

.......................................................................

 

PENSAMENTOS ESVOAÇANTES

Ah...linda menina...
dos pensamentos esvoaçantes.

Pouse uma idéia
Aqui na minha vista...
Quero vê-la definida
Segura de sua liberdade!

Voe idéias
a minha volta...
Preciso tê-las visíveis
Em minha tela mentalidade...

Ah...menina linda...
dos esvoaçantes pensamentos.

Firme em sua criatividade...
Quero vê-la infinita.
Aqui na minha vida,
Borboleta pousada.

Em nossa terna cumplicidade...
Nossos sonhos risíveis
Rodam revoltos,
Inspirações aladas!

Anorkinda

 

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PERDIDO NA FLORESTA

A sensação é repetida...
Sempre sozinho...
Sempre sozinho...
A mente acostumada.
A respiração apertada.

A floresta é conhecida...
Sempre a mesma...
Sempre a mesma...
A trilha viciada.
A indigesta maçada.

A aposta é mantida...
Sempre perdida...
Sempre perdida...
A esperança angustiada.
A suposta saída é entrada.

Anorkinda

...........................................................

 

 PÉROLA

 
Era uma vez uma perolinha
de cor bem branquinha
Nascida em concha fina
onda do mar era cortina
 
Espiava a vida praiana
seus sonhos, seu prana
Oferecia seu pequeno brilho
ao mar, inocente vitrilho
 
Da poeira dos dias
incorporava harmonias
Canções pequeninas
entoava às meninas
 
dos olhos da lua
 
Anorkinda

 

............................................................

 

Pétalas de alegria
 
Quando sorris
pétalas de alegria,
teus lábios vermelhos
sugerem leveza,
teus dentes brancos
demonstram pureza...
 
Quando sutis
emoções esvoaçam poesia,
tua alma expande
e compartilha,
tua presença ascende
e mais brilha...
 
Anorkinda
 

...........................................................

 

Pintando fantasia

Sob cores de borracha
Sob tons de giz de cera
Navega a cola da alegria...

Ela une quem se acha
amigo da fantasia!

Anorkinda

.................................................................

 

POLENTA

Farinha de milho
grossa ou fina
pré-pronta
ou não

Na panela
com água quente
você sempre me apronta
pula em mim em pingos ferventes

Anorkinda

..............................................................

 

Porteirinha

Porteirinha que se abre
sem rangido ou alarido
abre-se gentil...

Trilha, minha conhecida
recebe-me em boa-vinda
coisa mais que linda...

Pequeninha eu me sinto
sem idade ou vaidade
sinto-me infantil...

Terreno, pleno e verde
acolhe-me elemental
num espaço surreal...

Anorkinda

..................................................................

 

Pra dormir na rua

Lua lá no alto, tão faceira
põe-se a brincar, feiticeira...
Sem saber que é sexta-feira,
finda uma semana, trabalheira!

Ela, zombeteira, clareia,
fase de estar-se cheia...

Lua, não está pra brincadeira
a vida sem eira nem beira
desta meninada estradeira,
dê uma piscada, assim brejeira

E, sorrateira, presenteia
com um frescor de beijo de sereia!

Anorkinda

....................................................................

 

Pra me alegrar

Saudade do sol
de empinar pipa
jogar futebol...

Já pedi aos céus
para que parem de chorar

só assim eu poderei me alegrar!

Anorkinda

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 PRIMAVERA EM PASÁRGADA

 
No florido tapete já se vislumbrava
a alegria bulhosa da primavera
Doce perfume no ar também indicava
o prazer da estação em aquarela
 
Chegamos ditosos nestas terras
onde o Rei é um grande amigo
E a paisagem entre rios e serras
oferece á alma um forte abrigo
 
Que enlevo e emoção!
A poesia até dançava
airosamente no salão
 
Que paz no coração!
O sossego reinava
disperso em profusão
 
Anorkinda

................................................................

 

PRINCESINHA

No toque delicado,
esmalte na unha,
ela sente a vida,
o gesto adocicado.

No cabelo penteado,
flores do campo
no arranjo trançado...

Ela enfeita o dia.

No vestido bem-cuidado,
vermelhas rosas em botão,
ela celebra sua vida,
o destino abençoado.

No olhar aprofundado,
íris cor de mel
traz o sonho acordado...

Ela é a real fantasia.

Anorkinda

.........................................................................

 

PRÍNCIPE CASMURRO DAS GARUPITAS
.

Dançaram as Garupitas
à luz das velas
ao som das esferas

Sorriam elas
ao Príncipe
Casmurro e solitário

Serviam as Garupitas
ao deleite da nobreza
à distração das esperas

Deixavam elas
relaxado
até o mais autoritário

Somente seu Príncipe
não correspondia
e Casmurro ele seguia

Anorkinda

....................................................

 

Problema de fada

No Reino das Fadas
aconteceu um impasse
alguém havia perdido
o encantamento
dos dentinhos

Foi a Fada do Dente
quem deu o alerta
alguém devia reverter
o acontecido

Ou o mundo inteiro
se tornaria banguela!

Anorkinda

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REALIDADE ALTERNATIVA

Com a luz acesa do quarto de dormir
pude perceber que ela ainda lia
era alta madrugada mas a leitura a envolvia

Passei pelo corredor e fiz algum ruído
queria que ela me chamasse
abandonasse a ficção e enfim me amasse

Mas que nada, precisei me conformar
No café da manhã, ela contou-me
o livro todo, empolgada, consolou-me

Disse sentir-se à história ligada
como se fosse de sua vida que falavam
eu nada disse mas as lágrimas brotavam

Luana não precisou perguntar-me
ela sabia o que se passava em mim
também a ela a emoção saía assim

-Desidério, somos nós aqui retratados
ou fomos nós em algum tempo e espaço?
Não respondi, a cabeça em embaraço

Todo drama, a tragédia exposta em livro
causou-me náusea, como se um diário
houvesse sido aberto, um inventário

-Não é ficção realmente, minha querida.
E cambaleei até o sofá, a minha frente
um portal se abria de forma veemente

Assisti a tudo o que já vivi
com direito a toda a dor sentir
e a culpa ainda a querer me punir

Pois que matei e usurpei e paguei
um alto preço ao perder meu maior bem
o amor que não se vende por qualquer vintém

Luana nada via pois que já havia lido tudo
durante a madrugada, quando assustada
foi relembrando o que parecia ser uma cilada

-Por que volta-nos tudo o que vivemos?
Não foi suficiente o valor de uma vida
para apagarmos as cicatrizes da ferida?

Perguntava-se ela, chorando desconsolada
Eu nada podia fazer, dilacerado pela mente
me acusando pela insanidade ainda presente

Quando o portal de lembranças fechou-se
de súbito ocorreu-me um lampejo na ideia
recorri ao livro, narrativa de minha epopeia

Não havia nome do autor, sentei-me ao computador
Luana quis saber no que eu pensava
porém, totalmente absorto eu me achava

Digitei páginas e páginas de uma história
parecida com aquela tão minha algoz
mas eu a modificava em frêmito feroz

Eu suava e nem mais percebia Luana
que em transe me olhava sem me ver
Seu semblante modificava-se sem querer

Ao terminar de verter a inspiração
salvadora, redentora, expiação pura
uma magia branca ou negra, loucura

Suspirei numa respiração funda
então olhei para Luana, que serena
sorria e me oferecia a boca pequena

A beijei e então eu sabia
que o passado fora modificado
o livro sobre a mesa, consagrado

Pedi a Luana que o lesse novamente
-Desidério, acabei de comprá-lo
nem o li ainda, estou louca para devorá-lo!

Eu ri quase convulsivamente
a amiga que antes me desdenhava
era agora minha esposa e me amava

Toda a punição de um terrível passado
fora apagada de meu livro eterno
hoje é paraíso o que antes era inferno

Anorkinda

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Rubra lágrima
 
Espia a dor
que provocas...
Espia dívidas
que evocas...
 
Rubra lágrima,
tinge tuas rotas...
Rubra, purifica
o que tocas...
 
Anorkinda