Nonsenses
A lágrima feliz
Caiu do olho, ela, a lágrima feliz.
Serelepe e faceira, não se conteve,
Quis conhecer o mundo colorido.
Deslizou pelo rosto, a aprendiz.
Sentiu a pele macia no toque leve
Sorriu ela, ainda mais contente.
Ela que nasceu de um sentimento
Puro e agradável, não se conhecia,
Quis se experimentar sem lente
Era impetuosa em arrebatamento
Descobriu o dia que amanhecia.
Sorveu ela, seu momento fluido.
Dissolveu-se no poro, seu Nada.
Realizada e completa lágrima,
Quis a fusão de seu domínio.
Feliz é a lágrima transbordada
Como manifestação e obra-prima.
Sonhou ela e conquistou seu delírio.
Anorkinda
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À MESA
Degustes...
Pequenos nacos de sonhos
Mordisco nas manhãs nubladas
Pratos cheios...
Fartas fatias de fantasias
Devoro em refeiçõs ensolaradas
Taças...
Uns poucos goles de delírios
Bebo nas tardes de ventanias
Jejum...
Picantes sonhos secretos
Salivo em noites enluaradas
Anorkinda
............................
ALDEIA
Ele não sabia
viver sozinho
Ele não cabia
em si, único
mas social
Ele era aldeia
alegre ninho
Ele era areia
grão unido
gravitacional
Anorkinda
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ALÍVIO DESCABIDO
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ALMA AO AVESSO
Rabiscos me ferem os sentidos
Em noite muda, sem estrelas
Pergunto-me se ainda ouço
O pulsar em minhas veias
Palavras me descrevem
Sem que eu perceba
Escuto-me e sinto
Um resfolegar desconhecido
Poemas me atingem em cheio
Ofuscam-me as vistas
Me delineio no abstrato
Verdades me corrompem
os versos, divago-me:
Foi em mim que estremeceu?
Anorkinda
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Ao tempo
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As reticências das ideias
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.........................................................
Atenciosamente
Ternura que se adoça
no olhar, carinho
Atenção que se roça
no cuidado, sereno
Postura que se firma
nos atos, amenos
Fração que se sirva
nos apelos, sozinhos
Anorkinda
........................................................
Atmosfera de espera
Mesmo com a cor quente
vermelha, fluido
do coração
A atmosfera é fria
carente, descuido
da emoção
Mesmo com a companhia
verde, elementos
naturais
A espera é úmida
vazia, pensamentos
a mais
Anorkinda
.........................................................................................................
AUSÊNCIA
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Azul delicadeza
Refletido no azul
o Homem segue
navegando vidas.
A norte e sul
ele desliza
suas sinas.
Embutido no branco,
pureza da natureza,
estão os dons, em franco
estado de delicadeza.
Anorkinda
..................................................
..................................................
CÁLIDA DÚVIDA
Um olhar
me perseguiu
tão singular!
Um tom
me perseguiu
tão bom...
Uma dúvida
me perseguiu
tão cálida:
A ironia
me perseguiu
em tirania?
Anorkinda
.........................................................................................
Camaleoa
A uma loa, adapte-me
De uma cama boa, rapte-me
promova o que satisfaça-me
Um quasar à toa, capte-me
Pulsando mensagem, camaleoa
remova o que não nos ressoa
Anorkinda
(usando as palavras da canção Rapte-me Camaleoa)
..................................................................................
Cérebro, casa de esquilos!
.............................................................
Da contagem de volta
Condicionamos
a desfolhar
os meses...
Calendário
Acostumamos
ao escorregar
das horas...
Horário
Festejamos
o passar
do tempo...
Aniversário
Afortunamos
ao desejar
tudo de novo...
Ao contrário
Anorkinda
.....................................................
Da libido
Devoro-te
o conhecimento
embutido
Degusto
teu padecimento
e sentido
Declamo-te
solene fruto
proibido
Denuncio
teu atributo
da libido
Anorkinda
...........................................................
Da proposta
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DAS COMPARAÇÕES
Como gotas do mais puro
orvalho das manhãs
São os beijos refrescantes
na face dos tempos
Como lágrimas do maior
amor dos séculos
São os versos derramados
na poesia das vidas
Como respingos da mais pura
água das fontes
São as estrelas brilhantes
no céu das paixões
Anorkinda
...........................................................
Da saudade
Amiúde
memórias a torturar
vem em meu peito cantar
Alaúde
a tocar um cântico
melancólico e antigo
Saúde
definha a soluçar
vem, ligeira, a me faltar
Ataúde
a esperar um corpo
simbólico e semi-morto
Anorkinda
....................................................................
DELÍRIO DE MELANCOLIA
A cada vez que a lua surgia
Um pedido eu lhe fazia
Várias versões do mesmo
O pedido a esmo
Pois toda noite ela luzia
E pouco me satisfazia
Muitas vezes em choro
Perdi todo decoro
E briguei com a fantasia
Em delírio de melancolia
Anorkinda
...............................................................................
Desencontros marcados
Foi no dia especial
marcado pelo tempo
nosso memorial
Foi o dia sem igual
triturado pelo medo
nosso ancestral
Foi no dia do juízo
aquele sem final
onde colhemos o prejuízo
Foi o dia do desencontro
mania nacional
onde perdemos o prumo e o ponto final
Anorkinda
..........................................................................
Desenganos violetas
De todas as ilusões
a mais doída
é a desilusão violeta
Por várias gerações
é corroída
em desenganos violeta
Entre tantas tribulações
a mais sofrida
é a sensação violeta
Sem mais saudações
é travestida
em pétalas violeta
Em loucas sufocações
das mais pungentes
é o desespero violeta
Mistério dos corações
é inteligente
evitá-la maldição violeta
Anorkinda
..........................................................................
DEVAGAR OU DIVAGAR?
O que é melhor?
Ir devagar
E não adiantar
O relógio dos sentimentos...
Ou divagar
E não segurar
O impulso dos pensamentos?
Anorkinda
..........................................................
Diamantosos
...................................................................................
DILÚVIOS DE INCOERÊNCIAS
Foram muitos dias de chuva
Choviam cântaros de incoerências
Ouviam-se gritos em recorrências
Murmurava-se em decorrência
Isto servia-me como uma luva
Discorria-me em reminiscências
Abrandavam todas as cadências
Soluçavam loucas, as dormências
Escorriam uma a uma
as sombras e máscaras
das mais falsas eloquências
Deliravam na bruma
as sedutoras metáforas
assassinas da espontânea fluência
Anorkinda
..........................................................................
Direitos e renúncias
Mesmo sem saber dos direitos
soberanos de existir sobre os escombros
eu tenho o versos mais do que perfeitos
Mesmo sem reter a denúncia
que me pesa os ombros
eu tenho a escolha da renúncia
Mesmo sem porquês, as canções sorriem
e eu permito que me desanuviem
Anorkinda
.............................................................
Do tom dourado
........................................................
Doido Deus
Dentro de dois dias
Derrubou doze horas
Disfarçou duzentos defeitos
Descortinou dúzias de delírios
Depois disse dez doçuras
Duvidou das delicadas diretrizes
Dobrou deslizes do diagnóstico
Deliciou-se doido, derradeiro
Desfez-se diabólico
Diáfano Deus do dormitório
Anorkinda
....................................................................
Dores-flores
Brotaram ali, bem na esquina
do pensamento
Eram multicores, eram flores
encantamento
Jorraram assim, num repente
de imaginação
Eram dores, mas agora, flores
da evolução
Anorkinda
.................................................................
Dos segredos
Quando os segredos
espreitam-se
à minha curiosidade,
sempre entrego-me
aos costumes,
de, calmamente
deixá-los livres
em meu pensamento
assim, mesmo que pouco
seja notado,
muito mistério
me é revelado.
Anorkinda
..................................................................
DÚVIDA
O que tem de realidade
E o que tem de imaginário
Neste árduo trabalho diário?
Onde termina a verdade
E onde começa a fantasia
Neste duro dia-a-dia?
Quem não se pergunta
E quem é que se responde
No mistério que se esconde?
Anorkinda
.........................................
..........................................................................
Esferas curvas espaços
dentro todos espaços
todos parados momentos
gasto sapato pensando
forma cadência movimento
dentro algumas curvas
gotas paradas pensamentos
gesto abstrato movendo
esferas prudência sofrimentos
ANorkinda
....................................................................
..................................................................
Eu sou como eu sou
Pronome definido
no feminino
dos gêneros
O agora vestido
no momento
dos sentidos
O presente lido
no movimento
dos tempos
Vidente perdido
no feminino
dos labirintos
Anorkinda
...........................................................
Exceção
Sou concentração
em paisagem
iniciática
Sou exceção
em contexto
monocromático
Sou contestação
em abordagem
sistemática
Sou exclamação
em ano bissexto
e performático
Anorkinda
.......................................................
Fim de inverno
Mês de agosto
quase finda
feliz
invernada
Aceleram as horas
os dias passam
manobras
Finda o mês
mais perto
o fim
do ano
Esperam as novas
os dias criam
esporas
Anorkinda
....................................................................................
Flor de chá
Na quentura do chá
brotou o mimo
a flor
delicadeza
Desenvoltura a raiar
em luz, aconchego
o amor
e a beleza
Anorkinda
................................................
FOME
Tem dias que dá fome
de coisa boa!
Aquela iguaria nobre
de salivar o olhar!
Não é fome, é gula!
É necessidade
de saborear diferente,
de trincar os dentes!
Será que isso é
carência
demência
ou tendência
à obesidade?
Anorkinda
...............................................................
...............................................................
HOJE EU QUERO
Escapar da solidão
engolir o diapasão
e afinar a escuridão
Transgredir letras
burlar tuas regras
e dormir nas pregas
Silenciar os horizontes
colorir os montes
e captar os monges
Corrigir o livro
buscar abrigo
e fugir do castigo
Anorkinda
..................................................................
.................................................................
Impermanente instante
Impermanente tempo
que me induz
à ventania
Impermanente desejo
que me conduz
em ímpeto
Impermanente vida
que me seduz
à revelia
Impermanente beijo
que me dá
sem medo
este instante primevo
Anorkinda
............................................................................
Implacável sensação
Sinais...
Lembranças ou promessas?
Úmida...
a pétala fere na cor rosa.
Desfalece a branca tranquilidade.
Implacavelmente chove desilusão...
Anorkinda
..................................................
Impossível vento
..........................................................
...................................................
Infinitivo querer
por tanto te querer
e por você me querer
em total merecimento
e poder
desentendemos do querer
em desgaste, embotamento
e exceder
já não sabemos querer
distorcemos o fundamento
a se resolver
por tanto me querer
e por te querer
há um pranto lenimento
a escorrer
Anorkinda
.................................................................................
Íntimo desencanto
E por estar sempre à prova
meus instintos, alertas
ainda me provocam esgares
A transparência denuncia
as emoções, repletas
de espantos
E por ser casta e pura
aos olhos do amor,
ainda me faço espontânea
Pois nenhuma aparência
pode falsificar a cor
dos desencantos
Anorkinda
.....................................................................
Jovem
O laranja
vitalidade
encontrou-se
com o verde
jovialidade
Esboçou-se
assim
uma visão
de juventude
antenada
com a verdade
Anorkinda
................................................................................
LÁGRIMAS DE CHUVA
E a chuva chora lá fora...
Lágrimas transparentes
precipitadas de nuvens cinzentas
Nuvens recheadas
saturadas do líquido transparente
Líquido tradutor
das saudades dos belos dias
Belos e transparentes
dias em que as lágrimas evaporaram...
Anorkinda
......................................................
.........................................................................
LOUCURAS E ROSAS
Tantos aromas de rosas
Espraiam em noites de luar
Sensações rosáceas no ar
Delícias fragrâncias cheirosas
Tanta loucura em sonhos
Encantam em noites de luar
Delírios bailando no ar
Nossos planos tão risonhos
Ah...nossa loucura risonha
tão doce quanto enfática
inunda nossa alma que sonha
Ah...tantos aromas de rosa
tão suave quanto prática
flores de alma cheirosa
Anorkinda
.......................................
MEDO
Dividiu-se a galera
entre os que temiam
e os que enfrentaram
Concluiu-se a espera
pois que colidiram
os que saíam
a procura de solução
e os que encolhiam
em covardia e solidão
Anorkinda
........................................................................................
MINHAS ASAS
Asas que me elevam acima dos mundos
Me protegem do falso e do vil
Minhas asas buscam os profundos
paraísos de sensação febril
Asas que me revelam acima do fútil
Me expõem em gesto mudo
Minhas asas me levam ao mais sutil
recanto da Criação do Absurdo
Anorkinda
...........................................................................
Na balança das palavras
O que pesa na palavra
é seu sentido
às vezes ele é duplo
ou ainda tem homônimos,
desequilíbrios na balança....
O que também pesa
na palavra proferida
é o tom da voz interlocutora,
às vezes ele fere
mais que mil espinhos...
O que não pesa na palavra
é a verdade que ela contém,
às vezes promove um voo
como viagem em balão de gás...
ou como o mergulho
nas águas quentes de verão!
Anorkinda
..........................................................................
Na textura do tempo
enxergo o timbre e a matiz
desacelero em escuro verniz
sinto as cadências do tempo
absorvo o uivar do vento
dilacero segundos gritantes
reflito em cores ofuscantes
decoro as rugas salientes
liberto o amor incandescente
percebo melhor as saídas
quando pairo embevecida
na sonoridade do vento
na textura do tempo
Anorkinda
........................................................................
NONSENSE
Não tem sentido
retirar do fundo da terra
o motivo da lágrima
o sal, húmus do solo
Que intenso motivo
teria o humano que berra
para perverter
o nonsense da rima?
Não quero o absurdo
do choro que encerra
motivo perverso
neste teatro tolo
Que sofrida rima
sem motivo aparente
procuro trazer
sem noção nem obra-prima?
Anorkinda
...................................................................
Noturno
Um sentimento soturno
me acomete nas noites
em que a insônia me vence
É o vendaval noturno
das paixões abandonadas
aquelas presas no peito
Em noite quente e insone
elas saem em revoada
sem deixar um pó de sossego
Sôfrega e altamente imune
a tempestade de paixão
eterniza o terror na madrugada
Noturno inferno arrebatado
na loucura de aprisionar
a liberdade das paixões internas
Anorkinda
...............................................................
O ARREPIO DO MEDO
..........................................................................
O MEDO DA MORTE
Um dia a morte amanheceu
com medo!
O dia era frio e cinzento
era cedo...
A morte em estado de amnésia,
temeu...
O dia estava amedrontador
e escureceu!
A morte trêmula e nervosa,
vazia...
O dia estava repleto de perfeição
e ironia...
A morte rompeu o riso largo
da loucura!
Num dia assim, surtado,
saímos da clausura...
Anorkinda
..............................................................
PARADA
Num dia sem tempo
fiquei assim...parada
como o firmamento
em duplo reflexo
No piscar de um momento
fiquei ali...extasiada
como o próprio tormento
congelado e sem nexo
Num minuto fora do tempo
fiquei assim...arrebatada
como o pensamento
em fluido circunspecto
No pulsar de um batimento
fiquei ali...encravada
como o próprio sentimento
perturbado e expecto
Anorkinda
........................................................................
Quanto tempo você quer
Para correr atrás de objetivos
e desfazer-se dos receios
Para distorcer os perigos
e reproduzir devaneios
Para idealizar amores
e sofrer as decepções
Para espalhar as cores
e eternizar-se em canções
Quanto tempo você quer
entre o ontem
e um amanhã qualquer?
Quanto tempo você tem
a partir de hoje
e até próximo desdém?
Anorkinda
..............................................................................
OLHOS DE SENSAÇÕES
Fico assim a observar pássaros
ou flores e árvores...
Enlevada, algo desequilibrada
lembro dos mártires....
Penso em sensações estranhas
em soluços e dúvidas...
Fragmentos de sentimentos
em pupilas úmidas...
Fico aqui a filosofar nuvens
ou atalhos e desvios...
Diluída, um pouco alterada
em sombra e arrepios...
Teço teorias independentes
em mente intuitiva...
Momentos de entorpecimentos
deixo a poesia à deriva...
Anorkinda
.....................................................
Os semiventos
Quando pelas frestas
eles entram, invadem
mesmo invisivelmente
Quando pelas brechas
eles sopram, agridem
até implacavelmente
Quando pelos vãos
dos sentimentos
mal-resolvidos
Os semiventos
incompletos
não traduzem-se
nem em versos
Anorkinda
.........................................................
......................................................................
Pr'amanhã
Derrete-me o vestir
para que despida
de comprometimentos
eu não seja corrompida
Para que a névoa
cinzenta da vida
não me descubra
não me veja ferida
Dilui-me ao vestir
a transparência
dos sentimentos
gélidos de ausência
Então em meu ocaso
serei a plena essência
esplêndida e desnuda
a transpirar clemência
Anorkinda
.........................................................
Pra hoje
Derrama-me o azul
para que vestida
com o firmamento
eu seja destemida
Para que à noite
esteja escondida
a face que expõe
a falta cometida
Despoja-me o azul
límpida frialdade
do comprometimento
com a fatalidade
Em morno descaso
matiz casualidade
aparência que depõe
a favor da neutralidade
Anorkinda
................................................
Pra se molhar
Fragilidade
em água corrente
Da chuva
que pinga contente
Meu barquinho
é ilusão lírica e fluente
Anorkinda
............................................
Quando a Lei
..................................................
Rascunhos
Por dentro do vendaval
do tempo que arrasa
com todos os momentos
O homem avança bem mal
sem acoplar a asa
da liberdade aos sentimentos
Os álamos da história
falam como testemunhas
Guardam a memória
de tudo o que se rascunha
Anorkinda
............................................................
Recorrências
Remos que impulsionam
este meu caminho
pelos veios do destino
nem sempre aprisionam
inserido barco fluido
percorre tão sozinho
pelos vãos do desatino
nem sempre eu me cuido
conexões verdes vivas
sementes pelo caminho
anunciando novo destino
nem sempre são cativas
no caminho nunca reto
cada um é sozinho
vertente de desatinos
recorrente sina do homem ereto
Anorkinda
..............................................................
Redescoberta
Descobriu-se
depois
de um tempo
longo.
Redefiniu-se
após
uma jornada
longa.
Denunciou-se
antes
que o tempo
cobrasse.
Relembrou-se
avulsa
em cada
impasse.
Anorkinda
....................................................................
REFLEXO: MISTÉRIO OCULTO
No espelho
reflexo, mistério oculto
O que ele mostra?
devolve luz: espectro
Me percebo
névoa, segredo oculto
O que me escondo?
revolvo poeira: espectro
No mundo
sombra, luz oculta
O que me mostra?
reflete mistério: espectro
Me distingo
fluido, poeira oculta
Por que me escondo?
possuo segredo: espectro
Anorkinda
...........................................................................
Ritos do subconsciente
Da noite escura dos mitos
cavalgadas de fantasia
a névoa cobre o desvario
das histórias fantásticas
seres alados e feitiços
personagens do imaginário
tão pungentes os desvios
do subconsciente planetário
na trajetória dos ritos
exalação dos incensários
os seres humanos malditos
introduzem medos desnecessários
Anorkinda
...........................................................................
Roubo
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Rosáceas impressões
Dos homens e suas falácias
perdemos toda a paciência
Da beleza em rosáceas
formas, temos ciência
Dos medos e suas entrâncias
julgamos circunstâncias
Das marcas na areia
suspeitamos sereias
Anorkinda
.........................................................................
....................................................................................
Se eu fosse outro
.....................................................................
SEGREDO
Havia ali aquele mistério
daquele tipo que ronda
no nível semi-etéreo
Havia por ali um segredo
daquele jeito que assombra
o espectro do medo
Havia a promessa de degredo
sem volta ou absolvição
num aspecto de arremedo
Havia um ritual de império
sem perspectiva ou ação
onde a escuridão era refrigério
Anorkinda
.........................................................
Sentimentos ao vento
Dos verdes em canteiros
meus parceiros
Inscrevi meus inteiros
e fagueiros
Sentimentos
Em uma carta brejeira
mas verdadeira
Verti a alma inteira
e à maneira
de delírios
ao vento os submeti!
Anorkinda
............................................................................
.................................................
SINGULAR
Quis te devastar
mundos
de singular
substituição
Quis teu mundo
meu singular
substituto
a devastar
Quis a singular
substituição
devastação
de teu mundo
Quis substituir
devastadoramente
teu mundo
singular!
Anorkinda
....................................................................................
Sob o olhar da poeta atrás do espelho
fitava-me a poeta
aquela que vivia atrás do espelho
tinha ela o semblante vermelho
ruborizava?
enfurecia?
eu não sabia
julgava-me o reflexo
naquela atitude mesquinha
queria ela, sozinha,
apequenar-me?
apoquentar-me?
eu não sabia
acenava-lhe com os olhos
pr'aquela pose desvanecer-se
ou mesmo liquefazer-se
em luz
em pó
eu não sabia
divagava-me sob o olhar
daquela atriz absurda e muda
até mesmo algo sisuda
estranha
medonha
era eu?
eu não sabia!
Anorkinda
..................................................
Subalterno
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Tempo de oportunidades
Quando o tempo
abre-se numa fresta
a esperança
é primavera
É a oportunidade
que espera
qual criança
doida pra fazer festa
Anorkinda
..................................................................
Tempo vazio
Persiste o tempo do vazio
instituído pela sombra
de uma felicidade perversa
Da felicidade inversa,
um tempo doloroso
coexiste com o frio
Insiste o tempo e as horas
a lançar-nos à penumbra
de uma realidade adversa
Da realidade diversa,
um tempo sinuoso
resiste às demoras
Anorkinda
.............................................................................................
Tentativas
Nos sonhos: descobertas.
Lembro frases encobertas
De luz e escuridão.
Lembro um cheiro
Lembro uma voz
Que mistério escondo no travesseiro?
Tento sonhar
Tento lembrar
Quero descobrir tudo o que sonho?
Ou no sonho descubro tudo o que quero?
Anorkinda
........................................................................
TESOUROS
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TEXTURA DO TATO
Sentir a textura que as coisas tem
é mais do que a atividade
de um órgão dos sentidos
Sentir a textura que as coisas tem
é saborear na ponta dos dedos
o gosto macio ou poroso
Sentir a textura que as coisas tem
é abusar de criatividade
dos sensores do tato
Sentir a textura que as coisas tem
é ter na pele os arremedos
e desfrutes de um fino paladar
Anorkinda
.........................................................................................
VAGA SENSAÇÃO DE CALOR
Vaga por mim uma estranha sensação
Circula ao meu redor um calor, meio pavor
Estremeço...arrepio...parece paixão!
Acho esquisito, totalmente sem noção
Desejo a quem não sei, meio que pirei
Passam por mim partículas de confusão!
Fora de mim, refugio a solidão
Num ataque ardente, meio deliquente
De abraçar o substrato da razão!
Anorkinda
..................................................
Vazias, verdadeiras...
Vítimas vazias
Vislumbram
Volteiam
Vagam vorazes
Vasculhando
Ventres velhos
Vontades vis
Vertendo veias
Voláteis
Veludos vermelhos
Vulgarizam
Vitórias verdadeiras
Anorkinda
.........................................
VAZIO
Tão frio
o macio
despetalar
Muito céu
um breu
a ofuscar
Tão arredio
o cicio
sussurrar
Muito bom
sem tom
a alardear
Tão vadio
e fugidio
encontrar
Muito sermão
de antemão
a censurar
Vazio
Arrepio
na alma
Broto
Esgoto
sem calma
Saio
Ensaio
meu nada
Anorkinda
............................................................
VEJO UM CIRCO
Na vida vejo um circo
picadeiro de destinos
a luz foca o artista
No centro deste círculo
espetáculo e desatinos
arte faz a rima mista
No fogo de um círculo
malabarista de sonhos
o perigo ilude a platéia
Na jornada deste circo
mágica e rostos risonhos
o palhaço refaz a estréia
Anorkinda
.....................................................................
vermelha flor
Oriente-se no passo a passo
vermelha cor, energia de amor
O caminho floresce, carinhos
Desate-se de todo nó e espinhos
vermelha cor, compasso de amor
A vida favorece seu traço
Anorkinda
......................................................................................
VIAGEM À MARTE
Sempre ao longe há uma esperança
Ao fim de uma longa viagem
Novas oportunidades em dança
Focando ao longe: um planeta
Sem levar pesada bagagem
Na velocidade de um cometa
Marte, o planeta vermelho
Mistérios debaixo da roupagem
Viajo no reflexo do espelho
Impossível fugir de si mesmo
Processo de sideral bobagem
Vejo imagens marcianas a esmo
Porque mesmo em esfera
Quântica e estelar paragem
Íntima particularidade me espera
Anorkinda