de DESAMOR

 

 

AUSÊNCIA

Aprendi com tua constância, ausência querida
a lição aquela do desapegar-se, do querer-se
Resolvi os esquemas das equações terrenas
de conviver sem avolumar os problemas

Submeti-me as tuas vontades, ausência querida
e valorizei cada instante que era apenas meu
Adverti-me dos ardis da noite escura
a amedrontar os detalhes da armadura

Ausência...és o reflexo da presença
a antítese  da concretização
és o ponto alto da solidão

Paciência é tua namorada e crença
compartilhando tua missão
de ser do Alto, a conclusão

Anorkinda

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DESPEDIDA

Despencou das negras nuvens
chuvas ácidas de saudade
Tuas mãos frias condiziam
com o clima de sobriedade

Congelou o tempo das esperas
e ventos fortes predisseram
Tua presença era insana
como os olhos dos que erram

Sorvi a atmosfera lúgubre
e despedi-me de ti
Era preciso...assim sobrevivi

Abri o portal dos sonhos
num transe fecundo
Foi bonito...ganhei o mundo

Anorkinda

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E voou...

Quando lembro das folhas de outono
que já voaram... deixando o inverno despido
Penso em teu amor que se foi
também voando... deixando meu peito desnutrido

Quando lembro dos colibris que beijavam
as flores-primaveras... alimentando-se de cor
Penso em teu gosto que derreteu
no sol do verão... ausentando-se do amor

Quando lembro das paixões incandescidas
penso no fervor que acaba em brasa
adormecida em tempo-torpor

Quando lembro de tua devoção ensandecida
penso também que o nosso grande amor
transformou-se num par de asas

Anorkinda

 

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Navegando...

As águas estavam mansas
o coração tranquilo, em paz
O horizonte já ameaçava
mas eu me achava preparada

Engano! O céu fez-se surreal
para testar minha coragem?
O imprevisível desenrolar
daquela única tempestade

deixou-me à deriva
boiando no mistério
sem tábua de salvação

tirou-me as forças
apagando do peito
a fé num amor oceânico

Anorkinda

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 Nunca


O vidro entre nós
nunca se quebrou
faltou-nos
coragem

O medo em nós
impossibilitou
a queda
da frialdade

O toque entre nós
fragilizou-nos
de antemão

O amor em nós
preciosa pedra
não se arremessou

Anorkinda

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O SILÊNCIO DO BATERISTA

Dentre tantos sons de palavras ditas
O ruído metálico dos pratos
Em baterias dispostas em boatos
Teu silêncio fala mais do que meditas

Entre os acordes de melodias benditas
O vazio da emoção contida
Em ecos surdos, me põe abatida
Como presa que sabes e que fitas

Pressupões em teu interior
Que posso ver-te
Transparente água e furor

Pressinto em minha dor
Que posso querer-te
Completamente em torpor

Anorkinda

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Partistes

Desvencilhei os sonhos
de tua garupa afoita
e segui a pé, tristonhos
passos foram comigo

Encilhastes nova rota
em tua cavalgadura
cheio de fé, bancarrota
de minhas ilusões

Velastes uma ignota
parcela de ti mesmo
exauri tua cota

Partilhei os sonhos
num universo diverso
horizontes mais risonhos

Anorkinda

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Plenilúnio no mar

As ondas traziam a cada volta
embalada na espuma, a angústia
de esperar pelo nascer do dia
a aurora, senhora em escolta

As nuvens desfilavam galhardia
tranquilas, sem qualquer abalo
mimavam o luar em seu embalo
um quadro vivo na noite fria

Mas o amanhecer de tua companhia
tardava e não adiantava a revolta
tudo fora orquestrado sem utopia

Meu choro percutia como um badalo
e meu peito pedia uma reviravolta
entreguei-me ao plenilúnio e seu halo

Anorkinda

 

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Prisioneira

Em correntes de acordes
fizeste-me prisioneira,
mesmo que, zombeteira,
eu relembre os lordes.

Sem vacilos, recolhestes
o luar do céu, por inteiro
e não fostes o seresteiro
a cantar em finas vestes.

Em correntes favoráveis
de ventos aprazíveis
permiti-me solar

Sem vacilos possíveis
compus os mais amáveis
tercetos de te amar

Anorkinda

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QUANDO APAGOU O SOL

Era manhã clara e aquecida
As flores cantavam...
Me vesti de alegria embevecida
Seus carinhos me saciavam...

Mas nuvens negras chegaram...
As flores perderam o viço
Estremeci e arrepios me tomaram...
Em seus olhos, ares de sumiço

Me verti em lágrimas
Soluços de cor cinza...
Sua presença em cismas

Me percebi sem farol...
Você se foi com a brisa
Quando apagou o sol...

Anorkinda

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Tua poesia

Entranhada nos gestos
nas mãos que se dão,
a poesia corria
em veias de paixão...

Abrandada em lassidão,
a poesia vertia
lenta, conta-gota, mansidão...

Exclama o corpo e a alma
versos intermináveis,
o bálsamo, a cura e a calma...

Reclama, hoje, a vida
na solitária palma,
sem teu toque
em tédio e trauma...

Anorkinda

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VISITAS

Peninhas de passarinhos
me visitam com o vento
que entra pela porta
tarde de verão

Pétalas coloridas
visitam o chão
da sala fresca
primavera

Folhas secas e amarelas
visitam-me com o vento
perturbador deste outono

Anunciam-me o inverno
próximo e sua total
falta de luz e visitas

Anorkinda