INTIMISTAS

 

 

Agraciada


Sem chance pra depressão
É o momento da emoção
Que furtiva assume posição
E comanda o coração

Sentimento de alegria
Pelas experiências vividas
Mesmo sofridas ou agonia
São dádivas agradecidas

Com elas amadureço
Experiências vivências
Não há outra maneira

De prosseguir, então peço
Experiências conveniências
Deixem-me inteira!

Anorkinda

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Aldeia Escada

Ah...esta família...aldeia de risos
degraus de carinho compartilhado...
Ah...esta família Escada de sonhos
pessoas de coração abençoado

Com ou sem sobrenome, sangue
Genética de arte, música e alegria...
Num mundo à parte, nos segue
quem ama a gargalhada sadia

Com os antepassados da terra
Portugal tão distante
no tempo e no espaço, oceano

Transmitimos à descendência
Natural e aconchegante
o sonho Escada de ser encanto

Anorkinda

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ALMA AO AVESSO

Rabiscos me ferem os sentidos
Em noite muda, sem estrelas
Pergunto-me se ainda ouço
O pulsar em minhas veias

Palavras me descrevem
Sem que eu perceba
Escuto-me e sinto
Um resfolegar desconhecido

Poemas me atingem em cheio
Ofuscam-me as vistas
Me delineio no abstrato

Verdades me corrompem
os versos, divago-me:
Foi em mim que estremeceu?

Anorkinda

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Com saudade de casa

Em determinados momentos
A saudade aperta um nó
Em timbre grave: dó
Enlaces vibrando transbordamentos

Nestes momentos de emoção
A saudade faz canção
Desatina a razão sapiente
E acelera o coração carente

Desejo voltar pro meu lugar
Demora nada justa
Sinto a paciência desmoronar

Febril alucinação de retorno
Ansiedade que me custa
Sonidos de um tempo morno

Anorkinda

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Confetes

Assim como no baile de carnaval
Os confetes que caem em chuva
Me enchem os olhos da ilusão
Afinadamente com o irreal

Elogios só são verdadeiros
quando coincidem dentro
De meus conceitos próprios
Intimamente sei dos freios

Confetes coloridos
me fazem sorrir
Gestos agradecidos

Confetes merecidos
me fazem cumprir
Em dons refletidos

Anorkinda

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Desabrochar

Com a rosa colorida simplifico a vida
No instante da partida, o adeus convida
À viagem intradimensional de uma pessoa
Sozinha, viajante de muitos mundos à toa

Como uma flor multicor, num suspiro risonho
Meu percurso por dentro de meu sonho
Exala fragrâncias de descobertas infames
Fios de vida emaranhados em delicados liames

Desabrochar após um período solitário
Mergulhada em mim mesma
É derramar expirações no imaginário

Recordar de um adeus sem dor
Transformada por mim mesma
É lapidar uma jóia de puro amor

Anorkinda

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DESCONSTRUIR


Desde quando foi preciso desconstruir
tudo o que foi sedimentado pelos séculos
Desde teorias, concepções e preconceitos
Estou com a cabeça a ponto de explodir

São tantos anos desmistificando planos
A sedução do mundo sempre a insistir
São tantos clamores querendo desistir
Apenas o coração soube dos caminhos

Desde que morri pra meu ego
desconheço-me até no sorrir
uma nova vida, um novo canto

São dias de um novo construir
reconheço-me no acalanto
de felicidade a me colorir

Anorkinda

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Estar em mim

Em meu espaço de Nadas
me abraço e aconchego
é como mágica de fadas
rio em sutil emprego

A fluir suas águas
em minha vida íntima
ausência sem mágoas

Em meu paço iluminado
me faço redentora
do branco cortejado
alvo que me aprimora

A banir toda a falta
em minha dança rítmica
nota em escala mais alta

Anorkinda

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FLORINDO

Pelos campos verdejantes em mim
me nasci em mágico desabrochar
Minhas águas de planta suculenta
alimentaram-me, sempre sedenta

Minhas pétalas de um leve carmim
surgiram para a vida num bailar
Pelos jardins de gloriosa vida
colori-me da luz mais bendita

Em tons dó-ré-mi-fá
me verti sem dor
à música mais pura...

Em tons do rosa-chá
me submeti ao amor,
livre escravatura...

Anorkinda

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Gota d'água

No cálice coração
acumulei toda aquela mágoa
dos dias azedos, amargos
dos fatos pequenos, avaros

Na borda da emoção
brinquei com aquela água
empoçada da dor, dissabor
estagnada sem ar, sem amar

Na banal desatenção
pulei como fera, toda mágoa
transbordou, desassossego

No fim da ebulição
liberei a alma na água
do espírito em elevação

Anorkinda

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Histórias do passado

Perdida, zanzei pelos labirintos do passado
Sem linha, sem volta, sem um abraço
Nas paredes, as histórias, passado desenhado
Sem cores, sem pudores, sem bom traço

Histórias que eu vivi, mas nas quais não me vejo
não tem o meu eu de agora
São histórias de experiências e desejo
não foram em vão, foram a minha melhora

Entendi as mensagens desenhadas
e as segui, labirinto vivo...
me vi nos traços monocromáticos

Enfim, saí das agonias relembradas
e deparei-me, outdoor vivo...
com o espaço em branco de meu futuro lunático

Anorkinda

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INDEPENDÊNCIA OU MORTE

Ah...que vida esquisita
aprimorar-se e ser benquista
a independência de ser feliz
em completa e íntegra morte de si

Ah...que trilha benfazeja
regozijar-se e ser o que seja
a clemência de ser aprendiz
em discreta e tranquila vida em si

Ah...prefiro os risos e riscos
de uma vida independente
de certezas, aos tropeços

Àquela certeira em avisos
de uma trilha incoerente
e de grades sem recomeços

Anorkinda

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Leve desafio

tenho ganas de vencer o desafio
da existência divina e infinita
dá vontade de caminhar por um fio
com coragem branda e bendita

nos dias bons e gratificantes
da vida escola e correria
dá prazer conhecer almas brilhantes
companhias pra boa parceria

transcrevo vitórias objetivas
as perdas serviram, fugazes
para aprendizagens, sensitivas

beijo assim a vida miragem
luzes que me guiam, audazes
escorregando leve, planagem

Anorkinda

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Longe de mim

Por vezes me desencontro e vago
Em trilhas escuras e espinhentas
Me machuco e tropeço e engasgo
Um grito que soluça letras lentas

Sem equilíbrio e sem me achar
Procuro-me mas neste caminho
Errado e sem luz fico sem ar
Na ferida recente, um veneno daninho

Ficar longe de mim, é perigo
É armadilha barulhenta
Burburinho que grita castigo

Encontrar-me é objetivo
É saída que eu, sedenta
Alcanço como curativo

Anorkinda

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Me jogo na vida

A boa sorte me pisca
a cada vez que sorrio
Nunca apostei à risca
apenas fluí como um rio

O encanto da vida
me fez ternura
Paixão aquecida
na brasa mais pura

Descobri que não finda
Esta estrada bem-vinda
Esta festa-luzeiro

Cantei as fantasias
Me vesti de manias
Me joguei por inteiro

Anorkinda

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Mergulho da Deusa Lua

Em águas banhadas pela lua, submergi
Envolta por elas muito aprendi
Das lições do amor desaguado
Nas friezas da solidão gelada

Em noite de lua cheia, emergi
Revestida de encantamento, sorri
Bálsamo em mim foi jorrado
Fé no amor enfim recuperada

Sinto a força da vida
Convertida em deusa esqueci
Da lágrima sofrida

Ergo uma prece ao firmamento
Invoco os poderes que adquiri
De divindade em renascimento

Anorkinda

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MEU BRILHO É CRISTAL

Derramei todo o choro dos séculos
que me arrastavam dormente
Empunhei a espada de corte
para livrar-me de toda corrente

Captei a essência dos elementos
que me enlevavam sorridente
Destronei o ego mais saliente
para aliviar-me da má-sorte

Venci ressurgida no brilho
cristal límpido da aura
Surgi com novo estribilho

Agora canto a aurora
dourada radiante
A hora plena não demora

Anorkinda

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Meu feminino

Deste lado do universo que é feminino
Penso, sinto e observo de forma pueril
As dores e manias do meu desatino
Me revelam ou escondem, diferença sutil

Atitudes tão particulares e tão minhas
Universo interior e alma transcendental
Fêmeas subjetividades mesquinhas
Sujeitam as formas e a atividade mental

Devaneios de uma mulher insone
Como é o meu feminino?
Receio que em nada me consome

Livre de rótulo transliterado
Sei onde estou catalogada?
Graças a Deus que não, obrigado!

Anorkinda

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MEU NOME

Gravado no papel meu nome é Neide
entranhado na minha história é Anorkinda
pedaço do papel que represento com deleite
esculpido na minha memória que não finda

Reavivado nome xamânico dos meus dias
superficie indígena onde me revelo
espirito renomeado nas noites frias
pedaço do meu ser que é mais belo

Sem pestanejar dedico minha filiação
na terra do branco vindo do sul
uma alma antiga cheia de vibração

É com um grande festejar que abdico
do nome Neide personalidade útil
mas Anorkinda revive e a ela me dedico

Anorkinda

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MINHA LUA

Em mim há a lua enigmática
Lua-satélite de meus ensejos
Em mim, o satélite dos lampejos
Minha branca alma enfática

Fria e deserta na escuridão
Lua minha que recheia-se
De cores e abrilhanta-se
Em luz por pura diversão

Minha lua disfarça
Mundos Paralelos
de Elemental Poética

Em minha lua perpassa
Escada de Sonhos
de mágica elevação

Anorkinda

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Minhas vontades

Minhas vontades todas submersas
julguei estarem afogadas, mortas
pelo tempo em que comportas
lhes fechavam os escoamentos

Minha cegueira e total desatenção
não vislumbrou as possibilidades
baniu assim, minhas necessidades

Surpreendi-me grandemente
quando, num claro amanhecer,
os desejos se faziam aparecer
eles borbulhavam amor à vida

Verti-me na poesia viva
decretos e novas ciências
tornaram-se minhas vivências

Anorkinda

 

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Negro desejo

Quisera ser da noite
as trevas silenciosas
Nunca estrela, brilho
ilusório, empréstimo

Quisera ter no corpo
o universo infinito
Nunca pequena, frágil
vulnerável, átimo

Quisera ver o futuro
dentro deste escuro
Sem sol ou perspectiva

Quisera crer na alma
adormecida sem trauma
sonho ou vã expectativa

Anorkinda

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 Oito ou oitenta


Pra quem detesta números
escrevê-los por extenso
é uma folga pro intelecto,
preguiçoso e lento

Pra quem sua, doida
num verão abafado
é um desaforo
o meio-termo

Porque no inverno
gela o pé e a alma,
é um destempero...

Oito ou oitenta
é a marca gaúcha,
a ferro e fogo, ardendo...

Anorkinda

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Os ventos nas velas claras

Meu olhar não alcançou a ilusão dos ventos
Nunca fui íntima das horas mais claras
Meu amor reescreveu a lua nova dos momentos
De perdão e ternura com as rimas raras

Meu poema não desprezou o castelo em ruínas
Nunca desisti de sonhar com príncipes
Meu perdão descosturou os nós das esquinas
Da covardia e acariciamo-nos, cúmplices

Para escapar da maldade do mundo
icei as velas da insensatez
A poesia traçou um certeiro rumo

Em versos da cor do puro sangue
saciei-me de brisa e maciez
A vida nunca mais me viu exangue

Anorkinda

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Passado Presente

Em muitos casos
o passado
insiste em
se fazer presente

Em muitos casos
o presente
insiste agarrado
ao passado

Em muitos anos
passados insisti
em viver o presente

Em muitos anos
ganhei o presente
de apagar o passado

Anorkinda

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Passos no escuro

Percorro caminhos escuros
e o medo não me segue
Meu foco é à frente
onde a vista não alcança

Mas posso ver na fé
a  boa claridade
que aos poucos avança

Socorro minhas ânsias
com afagos na alma
Meu passo é lento
para andar mais rápido

Mas posso perceber
a brilhar, a felicidade
em horizonte ávido

Anorkinda

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Peninha equilíbrio

Leve, pena branca
leve minha vida
na direção dos ventos
dos ventos da mudança...

Leve pena branca
leve como uma partícula
do Todo em movimento
movimento da mudança...

Leve peninha
me acolhe na brisa
me dissolve no Nada

Leve, peninha,
meu equilíbrio
ao topo da Escada

Anorkinda

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Sob o sol do meu deserto

Me deixei perambular pelo deserto
passeio quente em mim mesma
Me permiti encontrar num incerto
receio gélido de velhas cismas

Vieram à tona cenários antigos
sensações de outra realidade
Vieram sem aviso prévio, castigos
perturbações da imaturidade

Os raios do sol inclemente
desnudaram a pele
em irradiação penitente

As brisas do tempo beneficente
modelaram a pele
da nova mulher ressurgente

Anorkinda

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SOLTA

Adorando a vida, recebo dela
Emoções que atormentam, por vezes
Amores que acrescentam em aquarela
Amigos que se provam em revezes

Cantando a vida, a louvo
Em melodias que me tomam
Em harmonias de renovo
Em sintonias que me afinam

Assim, amo a vida
em franca elegia,
profundamente

Em mim, atrevida
loucura sadia,
vivo animadamente!

Anorkinda

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SONETO SÓ

Só, prossigo andando até que me queimem os pés!
Somente a luz lá na frente promete intimidades.
Sozinha, envolta em minha própria e profunda fé!
Só a mente repetindo a mesma mediocridade.

Entre amigos compartilhando até que findem os tempos!
Abrangente o amor em transbordados corações.
Rodeada de carinhos, sorrio aos contratempos!
Em ternura afogo todo um rio de ilusões!

Só, prossigo encafifada com minhas emoções.
Entre afagos, curto minha solidão.
Sozinha ainda sigo entre as multidões!

Sozinha, espalho ao vento estes versos cansados
Em eternos sussurros do coração.
Só a poesia acompanha meus delírios ousados!

Anorkinda

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Sonhos patchwork

Pareço uma sonhadora menina
de nome Ana ou assim terminado...
Mariana, Susana, Veridiana,
não importa, estou sonhando...

Pareço uma princesa de aventuras
do Reino dos Contos de Fada...
Camelot, Etéria, Agartha,
qualquer destes, estou amando...

Entreteço uma história de bravuras
com estas cores circundantes,
estou semi-desperta, imaginando...

Entreteço uma canção vespertina
com estes tons aconchegantes
estou semi-adormecida, cantarolando...

Anorkinda

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Voo Solitário

Não importa que os anos passem
Não conto as horas de chat
Não alimento tristezas e pasmem:
Não revoluciono a arte

Não contabilizo abraços
Não estabilizo os medos
Não recorto os laços
Não sustento arremedos

Não abuso dos fracos
Não tolero o intransigente horário
Não dou pequenos pitacos

Não renuncio ao amor
Não desmereço meu voo solitário
Não desprezo meu valor

Anorkinda