FANTASIAS
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A Pequena Grande Nau
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As rimas do sol
Nas brumas do alvorecer
elas nascem e brilham
cada vez mais
conforme o sol as toca
Iguais a notas musicais
as rimas respondem,
sensíveis
ao dedilhado do poeta
o astro maior dos horizontes
Anorkinda
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Café com poema
Ao café intuo
que o poema vem
Como açúcar diluo
a inspiração que me tem
A poesia evapora
pelo ar, lentamente
esfria o líquido todo
Me ponho a escrever
enquanto sorvo
o sonho de versar
Anorkinda
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CAPIMPOESIA
Ele nasce livre
com a força do sol
que lhe instiga o verso
Ele benze, lindo
a métrica do arrebol
que perde força dia-a-dia
Ele nasce capim
simples e natural
cheio de vida e rimas
Ele cresce, assim
em descaminho casual
cheio de vontades e prismas
Anorkinda
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COMEZINHO
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Descolori...
Certa noite, tive uma idéia original
Subi pra perto do céu estrelado
E lacei minha estrela da sorte
Desejei que ela tivesse o poder
de apagar as cores dos versos
E comecei retirando as estrelas do céu
Sem estrelas nem o poeta mais genial
Poderia versejar entusiasmado
E as rimas estariam à morte
Fiz também a lua cheia desaparecer
Nem o poeta mais controverso
Conseguiria versar sem o luar e seu véu
Desci pra cama me sentindo sensacional
Todo poema foi tombado
Eu dormiria tranquila e forte
Descolori aquela noite só pra ter
um alívio no universo
de minha emoção cruel
Queria eu ser uma pessoa normal
e dormir o sono fechado
muito escuro e sem norte
Mas descobri, que meu Ser
faz mais doidos versos
na monocronia do cinzento pincel!
Anorkinda
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E LÁ VEM D. REDONDILHA
ela vem balançando as ancas
faceira e serelepe
cheia de poesia!
ela derruba as métricas
com bundadas bem dadas
cheia de regozijo!
ela ri às pampas do Rei Soneto
que sentado em regras
assa a virilha!
ela acarinha a criança inocente
que se deleita no poema
e ri de barrigada!
Anorkinda
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ELA CANTOU
Seu nome era Poesia
ela trazia um dom
de cura e harmonia
Ela deu o tom
sua nota em primazia
a boca sem batom
Seu olho luzia
ela causava frisson
a plateia em agonia
Ela, então, cantou
sua lírica magia
no final ela chorou
Anorkinda
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ENTRE O NOBRE E A RIMA
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Épicas rimas
As rimas, rachadas,
pela seca poética,
despreocupam-se
com a lucidez.
Desandam em acidez,
a retemperar
os versos,
sem ética.
Inspiram estupidez,
a divertir-se,
desbragadas.
As rimas, desvairadas,
soluçam universos,
realeza épica.
Anorkinda
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Ilha poesia
Cercado de amor
por todos os lados
o poeta deleita-se
deitado em rede de versos
enroscado na lírica das águas.
É merecimento ser portador da visão
que desperta todo e qualquer esquecimento.
Anorkinda
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Inimigo
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Loja de sonhos
Pela vitrine
raios solares
emprestavam cor
aos versos expostos...
Eram sonhos,
literatura,
aroma de amor.
Mudavam as nuances
com as horas do dia...
E o poeta, sensível a tudo,
à cada brilho imprimia
seu talento em poesia.
Anorkinda
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No ponto exato
Ao contrário
do que pensam
Eu gosto mesmo
é de buscar o ponto
exato onde se amam
a rima e o ritmo eufórico
Onde eles se unem
num labirinto de prazeres
entre um verso meteórico
uma prosa e um conto
Anorkinda
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O despertar da inspiração
Pincelada em mão de artista
desperta a inspiração
que dormia sem cor
Decorada como versos
de poetisa em ação
A arte dança em exaltação
Anorkinda
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O Expresso dos sonhos
Coloridos e positivos vagões
a trafegar por um trilho
de luzes, imerso em nuvens
É o Expresso dos sonhos
a apitar um estribilho
de sons, disperso em ardores
São os desejos de cada um
a irradiar um brilho
de neon, universo em expansão
Está nossa magnífica viagem
a criar um extenso rastilho
de amor, verso em composição
Anorkinda
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O GRANDE POEMA
Desfilou por entre todos
vestido de garbo
com rosa vermelha
arqueada sobrancelha
Parou meio de breque
sorrindo bonito
nos lábios, sussurros
corações em apuros
Perfumou o ambiente
fragrância suave
um toque almíscar
sensações no ar
Vibrou a voz rouca
timbre aguerrido
em palavras corretas
como mimosas setas
Atingiu o peito de todos
êxtase sublime
enriquecido no tema
de ser o grande poema!
Anorkinda
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O VERSO AMBICIOSO
Não foi assim que ele nasceu
era um menino lindo, em sorrisos
com ares refrescantes de delírios
Mas cresceu apenas um pouco
e já vestiu uma imponente casaca
dessas tal um pinguim fora de casa
Só pensava no ouro das medalhas
e nos aplausos da humilde gentalha
- Deixe disso, Verso, és tão bonito
na naturalidade, tão gentil e prazeroso!
Deixes de ambição vazia e procure a alegria!
Mas nada retirava seu ar de pompa
fez amizade com o Dicionário Rebuscado
conheceu vocábulos chiques e enlouqueceu
Hoje desfila com a cara mais apatetada
deixando o leitor sem entender mais nada
Anorkinda
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O verso e a loucura
Foi preciso despertar numa manhã clara
ainda a tempo de ver a primeira nuvem
que alaranjada, tal qual penugem
refletia um raio de delicadeza rara
que inspirava o poeta em abordagem
fantástica, criando uma paisagem
mental criativa, próxima da loucura
onde o verso perfeito se segura
Anorkinda
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OS AZUIS OLHOS DO VERSO
Trazendo a paz do azul celeste...
Lindos olhos do verso, empreste
Tua infinitude diáfana e perene,
Entregue à musa-poesia selene
Abençoando o poeta sincero...
Azuis olhos do verso, esmero
Do artesão maior, tempere
O sabor do poema que difere
Ultrapasse os entendimentos
E devolva o lirismo da vida
Simples dos elementos
Estremeça os limites
do teu firmamento
e deixa que te imites
Anorkinda
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Poeta, o Rei Mendigo
Pela poesia ele rasteja
estende o prato todo dia
mas na cabeça vai a coroa
brilhando versos à revelia
Mendiga ele, nem sabe o quê
já possui do sol, o esplendor
mas de suas mãos vertem rimas
que revoam alto como o condor
Grita ele ao mundo e ao infinito
que tem fome e sede de obras-primas
quer vestir sempre ouro e cetim bonito
Pela poesia, apaixonado perdidamente
conforma-se em ser um vagabundo á toa
sempre lhe servindo poemas, devotadamente
Anorkinda
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Pousam as palavras
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PRETÉRITO IMPERFEITO D'ELA
Ela transitava entre os paralelos
crenças e teorias sem elos
Ela dormitava nos processos
criações e mil excessos
Ela violentava todo enigma
vida e falso dogma
Ela atenuava seu imenso medo
morte e todo arremedo
Ela vibrava em vitórias
rotina e livro de histórias
Ela silenciava um infinito
constelações e seu próprio grito!
Anorkinda
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REINO POESIA
Naquela época
o Reino da Poesia
estava no comando
de um déspota
Rei Soneto Heróico
unido a sua esposa
Rainha Métrica
e seu método estóico
Silabada poética
era a vã burocracia
cheia de manhas
e despudorada ética
Agrilhoou a Poesia,
Donzela Inspiração,
em contadas sílabas
sem alma ou cortesia
Na torre, prisioneira
do bom e saudoso
Rei Belas-Artes,
sua única herdeira
E pelos salões e jardins
somente nobres gênios
entoavam a fria lírica
do Rei Soneto e afins
As pessoas atordoadas
Sem nada entender
das palavras loucas
pelos campos entoadas
Faziam reverência
obrigatória ao novo
Príncipe Decassílabo
filho de vossa imponência
Jovem poeta solitário
cheio de real garbo
vítima do verso gélido
jamais sonhou solidário
Vivia na dura frieza
do verso encastelado
desfilava junto à plebe
em máscara de beleza
O que nenhum gênio
sabia ou poderia crer
era que Inspiração,
a Donzela sem prêmio
Em noite enluarada
cantava em sua pura
realeza de princesa
a lira mais acalentada
Ao ouvi-la, os poetas
escreviam sofregamente
seus versos metrificados
ânsias de anacoretas
Mas ao silabar as rimas
mais aprisionavam
a musa das noites de lua
e ressecavam as obras-primas
A moça Inspiração,
nos sonhos nobres
do Príncipe Decassílabo
adentrou em visão
Em verso que seduz
Enterneceu ela
O coração principesco,
virgem de toda luz
Verdadeira beleza
e arte poética
ele finalmente
vislumbrou em pureza
E chorou, apaixonado
Decassílabo, esquecido
da burocracia materna
versejou sem o contado
Um amanhecer diferente
clareou o Reino Poesia
Donzela Inspiração
livre de toda corrente
Abraçou seu povo
em exaltação e amor
Casou-se ela com o fiel
Príncipe Verso Novo
Anunciaram a meta
da monarquia poética
onde todo habitante
do Reino será Poeta!
Anorkinda
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Roda
Roda o pião,
o moleque.
Roda as cores
em leque.
Roda o pião
em lazer.
Roda o poema,
com prazer.
Roda o pião,
o poeta.
Rodar as estrelas
é sua meta.
Anorkinda
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Ruborizando rimas
O poema defasado
não esquece do passado
E teima silabado
Rimas ricas e esnobes
Riem amarelo aos pobres
E julgam-se nobres
Escondo meu teclado
No virtual livro digitado
E provoco o inusitado
Simulo um soneto
Em verso discreto
E chamo um dueto
Assopro as rimas
Com bobas pantomimas
E maculo as obras-primas
O poema cansado
com o olho arregalado
E em transe assustado
Vê a rima desmaiada
Em face ruborizada
E de todo, desacreditada
Anorkinda
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Seu Gerúndio
Venho defener este nobre brasileiro:
Seu Gerúndio, representante vivo da gramática.
Ofereceu-se, este pacato senhor, a prestar ajuda
ao povo novo, privado de uma boa aula de Língua Portuguesa,
desconhecedor dos Verbos e seus tempos.
Seu Gerúndio,em franca ingenuidade,
ofereceu uma mãozinha... Mas qual!
A gentalha abusada tomou-lhe logo o braço todo!
E por isso, hoje, os eruditos o desprezam.
Pobre Gerúndio generosidade...
Declarado como reles, vil, alvo de escárnio.
Cuidado, leitor:
Pois você pode estar sendo preconceituoso.
Você pode estar cometendo uma maldade.
Eu não menosprezaria um amigo
disposto a socorrer-me
no verbo em aflição!
Anorkinda
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SOLIDÃO DE PALAVRAS
Mesmo reunidas em versos
A solidão ainda trucida
Uma ao lado da outra
As palavras ainda suspiram
Sintaxes, acentos, desacertos
Paráfrases, rimas e arremedos
Sem ser lida, seu universo
É sempre de tons incertos
Até que um leitor as encontra
E as palavras enfim, brilham
Cores, festa, folguedos
As palavras celebram a vida
Anorkinda
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SONHO DE AMOR
Sonhei, um dia,
em ser bailarina
e acordar no passo
delicado de um amor
composto por violinos
em notas soltas, alegria!
Sonhei, noutra vez,
em ser bela princesa
e adormecer embalada
por sussurros de amor,
versados pelo futuro rei
de um castelo do reino francês!
Sonhei, mais adulta,
em ser sensível poetisa
e conquistar pelas letras
dispostas em ritmo de amor,
o inefável Deus da inspiração,
aquele que dita a poesia oculta!
Anorkinda
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Tua poesia
Entranhada nos gestos
nas mãos que se dão,
a poesia corria
em veias de paixão...
Abrandada em lassidão,
a poesia vertia
lenta, conta-gota, mansidão...
Exclama o corpo e a alma
versos intermináveis,
o bálsamo, a cura e a calma...
Reclama, hoje, a vida
na solitária palma,
sem teu toque
em tédio e trauma...
Anorkinda
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VERSO ADORMECIDO
Nascido de uma lírica mãezinha
o verso adormecido em seu berço
recebeu a bênção da madrinha
ganhou do padrinho, seu primeiro terço
- Parecido com o pai,
Poema Inteligente era zeloso
agradeceu o milagre sem ironias
beijou o rosto do filho mimoso
O pequenino verso, inocente
sequer sabia ser ele vidente
ele leria almas e mentes
De fina ascendência poética
ele derramaria, cheio de ética
a mais sublime das dialéticas
Anorkinda
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VERSOS COLORIDOS
Um verso vestiu amarelo e óculos escuro
e falou do Sol, o astro-rei mais puro
Um verso feminino vestiu vermelho e bico fino
e saiu seduzindo homens no maior desatino
Um verso zangado de terno preto e gravata
bradou as injustiças, gritando: - É Bravata!
Outro verso vestiu logo verde-limão e boné
disse que ia cantar em alemão na Praça da Sé
Um verso delicado vestiu-se de veludo rosa
e contou mil histórias, todo alegre e prosa
Em verso cafona, de sobretudo roxo
resmungou velhas rimas num muxoxo
Outro verso pintou-se de cor de laranja
dizendo que quem é esperto, a sorte esbanja
Um verso triste vestiu uma túnica cinzenta
e discursou sobre a maldade e a sina violenta
Um verso, em trajes de seda, foi mais ousado
e tatuou no peito o mundo em azul perolado!
Anorkinda
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Versos coloridos ll
Um verso cobriu-se com um pano bege
e cantou uma música seca e herege
Um verso gracioso de vestido branco
desfilou entre as gentes seu sorriso franco
Um verso simples vestiu um verde-água
e disse em sonoro tom que apagou toda a mágoa
Outro verso rimou logo seu matiz marrom
com lábios entumescidos de batom
Um verso lilás e brilhante compôs o poema
de saudade, travestido do mais duro problema
Um verso exuberante vestido de grená
esgueirou-se sensualmente no sofá
Outro verso, mais tímido vestiu salmão
e confundiu-se com a cortina do salão
Um verso dourado, de vestido longo
valsou com o poeta mais oblongo
Um verso muito feliz, trajou-se azul-turquesa
e visualizou um mundo inundado de beleza!
Anorkinda
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Verso e sonho
Um sonho comprimido
num peito complexo
Soltou-se sem limites
num revoo bonito
Versou seus sentidos
sentimentos em anexo
Há quem o imite
e também voe solto
Um sonho redimido
num peito complexo
Assim a menina-moça sonhou
e seu mundo criou
Anorkinda
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