com LENA FERREIRA

 

 

 A DEUSA NEGRA DAS ÁGUAS


Teu ouro, amor
me faz rica
me traz
a graça

Teu espelho, fulgor
te faz bonita
te traz
bendita

Teu cheiro, flor
me faz meiga
me traz
serenidade

Teu prumo, sem dor
te faz favorita
te traz
meninita

Teu chamado, clamor
me faz sorrir
te traz 
Mamãe Oxum 

Anorkinda e Lena Ferreira
 

 

 

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 CÉREBROS SANTOS


Céticos, santos
tantos
seres pungentes

Célebres falas
exalas
febre quente

Cânticos surdos
mudos
palatos doentes

Tântricos uivos
fundos
olfato demente

Cérebros tontos
turvos
olhos ausentes

Céleres larvas
lavras
verso urgente

Anorkinda e Lena Ferreira

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 COLORINDO A ALMA


Meu coração, silente, grita de dor
Depois de derramar-se em solo árido
Não suporta mais o peso do desamor
Em vão, tenta livrar-se da poça de pranto

Minhas faces descoloriram sem sabor
Pálida e fria caminha a minha alma
Não há mais espaço pra tanta dor
Necessito extirpar tantos traumas

Abro minhas feridas que sangram
Rubras gotas expoem meu tormento
Sinto escoar todo meu sofrimento

Refeita, sinto que minha tez cora
Dilatam-se as pupilas do prazer
Colore-se minh'alma; meu reviver!

Lena Ferreira e Anorkinda

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COMPLETO (O) DESTINO
.
Em fortes emoções
intensas, de cor vermelha
Declaro em versos:
Sou um ser livre!

Leve, viajo pelas letras
Rabisco minha essência
No ar; respiro novos ares
Pelos mares, descubro
Novos rumos; meu prumo

Em cores seduções
da pele, tudo se assemelha
ao interno livre
da viagem dos meus versos

Em línguas diversas
Sintonia completa
Perfeição quase exata
Força abstrata
Um sentir repleto
Satisfação

Viva, versejo
o enlevo das emoções
Lugar dos devaneios
que me diz completa
e sou feliz

Viva, em verso, completo
O que o destino
Me diz

Anorkinda & Lena Ferreira

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FESTA SEM MOSCAS

E os sapos encantados chegaram
trazendo as línguas mais famintas
Lamberam a inércia, deram movimento
E o fato nos deu tanto contentamento!

Das moscas,nem lembranças!
A festa das letras empolgou...
Versos livres, dançando
Frases soltas, saltitantes!

E um vai e vem constante...
Energia que se esbalda...
Rimas soltas riem bastante!

Moscas no calor se escaldam
Mortas aos versos mais baldam
E a festa prossegue delirante!

Lena Ferreira e Anorkinda

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IMPROVISA

escutando boa música
 o verso cutuca
 veste túnica
 e nos empurra

vai lançando
ao vento
tudo quando
é lamento

meio que sambando
o verso avisa:
quem é do bando
chega e improvisa

improvisando
o grosso se alisa
 quebra quebranto
enfim, sereniza!

Anorkinda e Lena Ferreira

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INCONSTÂNCIAS

Refresquei tuas manias
Nas águas dos sorrisos
E castiguei os paraísos

Mergulhei minhas razões
Nas águas da tua beleza
E castiguei minha certeza

Amordacei tuas palavras
Nas águas dos meus beijos
E castiguei nossos desejos

Acorrentei teus pensamentos
Nas águas da minha lembrança
E castiguei nossa inconstância

(Anorkinda & Lena Ferreira)

 

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O ESVAZIAMENTO DA POETISA

Nestes meus dedos que rimam
ao comando da intuição
Percebo um fluxo a escapar
Versos, ao riscar da pena
Levam consigo parte do meu eu
Doando-me, inteira, deixo-me ir...

Nas asas do devaneio meu Ser
poetisa, invade o mundo
das letras serenas
Leva um canto suave; ameniza
Da pena o peso breve e vai...

Segue, restaura, reanima a chama
Da alma, com calma; plena...
Encanta por onde passa
cura que clama...
E eu esvaziada me jogo
inteira no ritmo
Enredo-me nessa dança
De letras serenas, tão claras
Canto o canto, conjunto
De notas breves e raras

Adivinho a estrutura
do novo sentimento
nova poesia
um tormento que se avizinha
e mais esvaziamento...
Ciente, silente e refeita
Entrego-me em gozo
A esse novo momento...
e a poesia novamente
e sempre
me leva e enleva
o prazer de ser-lhe obediente...

Anorkinda e Lena Ferreira

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OLHE BEM


Mira essa figura à tua frente
Não sou apenas o que vês
De riso fácil, tão contente
Por trás, sou séria: tu crês?

De meu lado, o que vês:
Menina tímida e infantil
Bem sei do fácil ardil
Que convém ao freguês

Acima, tu crê no que vês?
É fruto de visão deturpada
Não tenho coroa; não crês?
Sou carne, osso; humanizada

Abaixo, vamos todos ao pó
Não assimiles o que vês
Não existe sangue de marquês
Temos entranhas, pele e só

Mira esse figura a tua frente
Nunca fui mais do que tu
Sou ser humano, sou gente

Olhe com o coração latente
Somos iguais, eu e tu
Da árvore da vida, a semente

Lena Ferreira e Anorkinda

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PALAVRINHAS TRÔPEGAS
.
Tropecei na sintonia fina
A palavra soou meio torta
Foi aí que o ai da menina
Foi ouvido: sai ( pela porta)
.
Fiquei sozinha na tarde
Sem saber que a vizinha
Entendeu pela metade
Foi dito: oi, amiguinha
.
Bambeei um pouco pra esquerda
Depois, pra direita eu me ajeitei
Tentando consertar essa perda
Foi aí que mais ainda eu tropecei
.
Gritei, chamei por ela!
Mas a amiguinha escrevia
Percebi, pela janela
Que uma poesia nascia!
.
Lena Ferreira e Anorkinda

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 RENOVAÇÃO


A ideia de expandir a pura arte
pelos quatro cantos desse mundo
move-nos num sentimento profundo
e contagia artistas de toda parte 

A plateia, vertente de emoções
acompanha atenta e aprendiz
curando-se na luz mais feliz
inspiradora nas perfeitas ações 

Obras de arte então vão nascendo
parcerias tantas vão se formando
cumplicidade, enfim, à toda prova 

Poesia, arte das imagens-letras
viagem mental que soletras
leitor, em vida que se renova 

Lena Ferreira e Anorkinda

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SAL DA VIDA


Colherei as cinzas do teu corpo
Guardarei cuidadosamente
Por um tempo, velarei teu pó
Pedirei asilo ao vento forte
Com o cântaro de ti nas mãos

Submeterei à decisão do tempo
Esperarei pelo certo momento
Serás agraciado com dádivas
Do mais puro e intenso amor
Com o sal da vida a te recolher

E quando a luz no vaso penetrar
De tão intensa, ele se romperá
E espalhará tua poeira ao vento
Voltando à terra, morada eterna

Terás o alento e o conforto
Da unidade, da integridade
Estarás no Todo, disperso
E completamente feliz!

( Lena Ferreira e Anorkinda )

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SIBILANTES

Correm, sibilantes, as águas
Deslizam lavando a alma
Das dores, mágoas e pó

Deslizam, silenciosas, as nuvens
Correm pelo céu em leveza
Ouvindo a direção do vento

Correm, silentes, as vozes
Deslizam despertando ouvidos
Para a anunciação eminente

Deslizam, sussurrantes, as fadas
Correm pelo ar em missão
Distribuindo a boa-nova urgente!

Lena Ferreira e Anorkinda

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TÃO SIMPLES!

Tão fácil amar o próximo
basta olhar com olhos
rasos de preconceito
fundo em sentimento
pobre em indiferença
rico em fraternidade

Tão pouco se exige
ao se olhar o próximo
maior discernimento
alcançado com intuição
e menor endurecimento
do moldável coração

Tão simples estender a mão
a quem está ao seu lado
precisando de uma palavra
ser ouvido; um abraço, só...

Tão bonito é o doar-se
energia que vai e volta
abençoando amizades
no prazer de não ser só!

Lena Ferreira e Anorkinda

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TRICOTANDO MACARRÃO

botei a água no fogo
enquanto a fumaça não vinha
chamei a kinda, vizinha
pra entretermos num jogo

vamos tricotar macarrão
falar da poesia que vicia
enquanto a carne amacia
nas chamas do fogão

de pau, em punho, uma colher
mais uma estrofe na cabeça
e antes que eu me esqueça
arrumo a mesa, prato e talher

macarrão foi pra pia, escorrer
mas a conversa não esfria
é tanto amor por poesia
que preferimos escrever

molho pronto, mesa posta
mote dado, lá vem um verso
prato posto, vem a resposta
alimento é poesia; universo

Anorkinda e Lena Ferreira

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UM ENCONTRO NAS ÁGUAS

Abraça-me e sussurras...
veio de dentro de mim
e brilhou na água pura
verteu um amor sem fim

Afaga-me e deslumbras...
cheia de força, Oxum
sorriu-me em candura
num sorriso incomum

Que até o sol ofuscava
E de inveja ele sumia
Quando ela se banhava
Na cachoeira, água fria

Flores ao seu redor, tantas
Exalando o seu perfume
Seu caminhar nos encanta
É, do meu caminho, o lume

Encanta-me e depuras
esteio de minhas águas
refletiu-me a natura
espelho sem máculas

Despe-me dos ais e dores
quando lança-me o seu olhar
ensina-me o caminhar; amores
em fases mostra-me o luar

Anorkinda e Lena Ferreira

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VAGARES

Andei por tantos lugares
e caminhos diferentes
só cansei, mudei de ares
encontrei teu riso quente

Desfilando pelos bares
com teu ar inocente
mas teus olhos vulgares
já não são convincentes

Acabei navegando mares
de ilusões carentes
Só amei os encantares
dos versos ebulientes

Afoguei os meus amores
tuas seduções frementes
peço para não julgares
meus atos inconsequentes

Anorkinda e Lena Ferreira
 

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VENTO DO SUL
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Vento suave vindo do sul
Varreu as poeiras da mente,
Chegando tão serenamente
Transformou o negro em azul
.
Vento suave e certeiro
Chegou tão de mansinho
Suave, ajeitou seu ninho
Fazendo limpeza primeiro
.
Vento, muito te agradeço
Tiraste a venda de mim
Após repousaste assim
No peito onde te aqueço
.
Vento em sereno descanso
Cumpriste tua missão
Reviraste a escuridão
E transportaste um remanso
.

Bendito seja o teu soprar
Realizador de mudanças
Após minhas tantas andanças
Ascende a luz em meu caminhar
.
(Lena Ferreira & Anorkinda)

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 Verso Criação


Cada gota de suor que desce
no momento de riscar um verso
é certeza de satisfação 

Toda consoante se reveste
de vento e a vogal, de universo
compondo uma imortal canção

É das quimeras, a Criação 

É da alma, a mais pura emoção! 

Lena Ferreira e Anorkinda